Manuel Lourenço, secretário-geral da Comissão Organizadora da Queima das Fitas, em entrevista ao DIÁRIO AS BEIRAS
Quais são as principais alterações previstas para a edição de 2018 da Queima das Fitas de Coimbra?
São muitas e podemos dividi-las em várias áreas. Ao nível da tesouraria, temos uma redução orçamental da ordem dos 250 mil euros. O valor é meramente indicativo, mas vamos tentar ao máximo cumprir de forma escrupulosa o orçamento de 2018. Quanto à bilhética, temos o Bilhete Geral cifrado em 50 euros e uma novidade que é o bilhete para estudantes bolseiros no valor de 40 euros. Trata-se de tornar a festa mais justa e, desta forma, dar oportunidade aos alunos que a Direção-Geral do Ensino Superior considera ter mais carência financeira de participarem na Queima das Fitas. No recinto, temos várias novidades: mudámos toda a estrutura organizacional. Uma alteração que, com toda a certeza, será do agrado dos estudantes. Este ano, vamos defender a utilização dos copos reutilizáveis, o que permitirá reduzir a utilização no recinto de cerca de 300 mil copos descartáveis. Em relação às atividades tradicionais, é de assinalar o fim da Garraiada e a garantia de que, na Serenata Monumental, irão atuar os grupos da Secção de Fado da Associação Académica de Coimbra (SF/AAC). No Cortejo, estamos a passar a mensagem de que é necessário reduzir o lixo e combater o desperdício de bebidas. Ao longo do percurso, iremos também instalar sanitários para utilização dos estudantes e de todos aqueles que assistem ao desfile.
Comecemos pela tesouraria… A redução de 250 mil euros coloca em causa a qualidade do evento?
Acho que não. O que aconteceu foi um trabalho rigoroso de organização para tentar conter ao máximo os custos para, no final, conseguirmos cumprir ao máximo o orçamento definido para este ano.
Se é possível organizar uma Queima com esta redução de orçamento, isso quer dizer que nos anos anteriores se andou a gastar demasiado?
O balanço só poderá ser feito no final da festa, quando tiver a certeza do meu grau de cumprimento desta alteração orçamental. Agora, acho que se podem fazer bons cartazes com meios mais reduzidos. Eu acho que o cartaz das Noites do Parque está bom, dentro do orçamento que tínhamos à disposição. Note-se que, de 2017 para 2018, reduzimos o orçamento da produção das Noites do Parque em 60 mil euros. Temos artistas internacionais e, como tal, não há uma perda de qualidade nesse aspeto.
Quais foram as principais dificuldades que o secretário-geral enfrentou para colocar de pé esta festa?
Desde logo, o facto de termos chegado a uma festa em que os relatórios e contas não estavam esclarecidos por toda a Academia. As contas estavam bloqueadas pelo Conselho Fiscal e o relatório de 2017 esteve a ser discutido até ao passado mês de fevereiro. Todo este processo, que deveria ter decorrido de forma normal, colocou algumas pedras na engrenagem. O meu objetivo, enquanto secretário-geral, é que no final do meu mandato, é tentar cumprir ao máximo os prazos para a entrega dos documentos, para que a passagem de pasta seja feita da forma mais normal possível.
Pode-se dizer que a festa esteve em causa?
Quando eu cheguei à organização da Queima das Fitas, a festa estava em causa. A partir do momento em que a Secção de Fado nos diz que não toca na Serenata, que tenho as contas congeladas e não posso gastar dinheiro nenhum para começar a executar a festa, pode-se dizer que a edição de 2018 da Queima esteve em risco.
O papel de Alexandre Amado, presidente da Direção-Geral da Associação Académica de Coimbra, foi fundamental para desbloquear esta situação?
Alexandre Amado esteve sempre presente e foi um apoio fundamental para que a Queima se pudesse realizar.
As alterações divulgadas em conferência de imprensa são fundamentais para o futuro do evento?
Acredito que sim. Há aspetos que a Comissão Organizadora da Queima das Fitas tem de começar a absorver como positivas para o futuro. Haver uma maior fiscalização não deve ser vista, pela Queima das Fitas ou pelo secretário-geral, como a tentativa de alguém querer controlar ou ter uma hegemonia sobre a festa. O objetivo é, apenas e só, que as coisas decorram de forma mais transparente. Não há nada de novidade nesta matéria, pois é assim que as coisas devem decorrer.
Posso depreender das suas palavras que tal não aconteceu anteriormente?
No passado, se calhar, nunca houve muito controlo sobre a festa por parte das entidades fiscalizadoras. Agora, assistimos a um maior controlo, a um maior rigor porque chegamos a um ponto em que as coisas não estavam muito bem.
Isso é bom ou mau?
O facto de haver um maior controlo é muito positivo. Agora, como digo, o facto de haver uma maior fiscalização não deve ser visto na ótica de controlar ou condicionar a realização da festa, mas sim de ajudar a que as coisas decorram de forma mais transparente. É bom que isso se perceba.
Quanto ao fim da Garraiada, foi uma decisão difícil de tomar?
É bom que se explique o que aconteceu. Os oitos comissários, eleitos por alunos de cada uma das faculdades, acharam que a Garraiada não deveria continuar. A partir do momento em que eles são eleitos individualmente por faculdade, partimos do pressuposto de que têm alguma representatividade na festa. Conhecida esta decisão, o Conselho Geral achou — e bem — que a decisão deveria ser posta a referendo junto dos estudantes. O resultado foi inequívoco e, a partir desse momento, a Comissão Organizadora só tinha de acatar a decisão dos alunos.
Como é que entenderam a primeira decisão do Conselho de Veteranos pós-referendo?
Saber que, mediante, uma decisão dos estudantes há um grupo organizado que consegue “manipular” uma votação — apesar de eu não entender que esse tenha sido o objetivo — é uma decisão, no mínimo, estranha. Isso foi, sinceramente, contra todos os princípios democráticos da AAC.
Depois, acabaram por emendar a mão…
Claro. E como já ouvi dizer, por parte de algumas pessoas, que a Queima das Fitas cedeu a pressões partidárias. Não aconteceu nada disso. A Queima, única e esclusivamente, limitou-se a cumprir a vontade dos estudantes. Trata-se de um evento com forte contestação e, como tal, ouviu-se os estudantes que, na grande maioria, votou a favor do fim da Garraiada. Como tal, cumpriu-se a vontade dos estudantes.
Entrevista completa na edição impressa de hoje