Opinião: Presunção

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Ele há o presumido que é vaidoso, ele há o piroso que é presumido, ele há o presumido inocente, ele ainda “presume que a culpa é do Manuel”. Presunção de qualquer coisa é desde já um mundo de incógnitas e de incertezas. A presunção de que temos razão ou de que estamos bem informados é desde logo uma vaidade ou uma construção de ego forte. Um espírito afirmativo, com autoconfiança, presume sempre que a culpa é do outro, nunca sua, jamais defeito seu. Presunção de verdade absoluta, mesmo que tudo indique o contrário. Este processo é complexo quando a teimosia interfere com terceiros.
A presunção deselegante é uma das características transversais aos portugueses, do mais básico ao mais elaborado. Eu tenho o direito e portanto exerço esta certeza presumindo que tenho razão. Posso ir a sessenta quilómetros hora, posso e devo seguir na minha via, portanto mesmo que ensope os da paragem de autocarro não abrando, mesmo que ponha em risco aquele peão não travo. É um direito meu e portanto presumo a minha inocência.
Mas isto, não dar passagem, não ajudar, não facilitar, não reduzir a velocidade quando outros ficam em perigo é tudo presunção deselegante que decorre de uma não verdade. Ter o direito não nos permite tudo. Porque os carros devem dar passagem na passadeira, não podemos correr para ela, não podemos atirar-nos para a frente de quem vem com alguma velocidade.
A presunção vaidosa é um facilitador de acidentes. A presunção de inocência é um direito de todos os ladrões que aguardam a prova ser transitada em julgado, mas é verdade que até lá são presumíveis inocentes. Eles sabem que são ladrões. Essa é a diferença de um direito geral para um ladrão particular. Os banqueiros que arruinaram vinte mil milhões de euros dos portugueses, que reduziram a nossa qualidade de vida permanecem nos seus direitos e usufruindo do fruto do roubo. Esta presunção de inocência dá um direito de utilização indevida dos bens alheios. Por tudo isto é presumível que um dia fiquem livres e pague o justo pelo pecador. Isto quer dizer que um dia os contribuintes pagarão todo o desfalque de meia dúzia sem ver que se faça justiça.
As relações sinuosas de financeiros com construtoras e com clubes de futebol e com vendas de acções da EDP e com compras de parte do capital social de bancos e com perdas milionárias na PT, com descalabro económico em empresas no Lava Jato, na Lena, em consórcios internacionais, em insolvências ruinosas e falências depois de retirada de capitais, ficaram todas com resultados em prémios de gestão milionários para presumíveis inocentes que têm orelhas grandes, tromba enorme, pele cinza, estão gordos, parecem elefantes mas temos de os apelidar de virgens inocentes ou seria difamação. Presumo que tudo isto terá de mudar um dia.

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