Opinião: Museu da Batata Frita

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Os belgas vangloriam-se de terem as melhores batatas fritas do mundo. Na sua perspetiva, a técnica que utilizam para fritar as batatas é diferente da utilizada noutros países, tem características e métodos exclusivos, daí resultando uma qualidade superior no produto final, razão pela qual muitos belgas não apreciam a degustação de batatas fritas fora do solo pátrio. Comer batatas fritas só na Bélgica.
Um dos pratos típicos da culinária belga são os mexilhões fritos acompanhados por batatas fritas. No entanto, as batatas fritas também se podem degustar sem necessidade de qualquer acompanhamento. Na cidade medieval de Bruges, na praça central, em pleno inverno, com temperaturas de cinco graus negativos, é possível comprar um pratinho de batatas fritas, com uma montanha de maionese e um garfinho de plástico, para degustar em pé, em pleno espaço exterior, enquanto se admira a neve que nos cai em cima, reforçando o manto branco que cobre a imensa praça, assim como os nossos sapatos.
Estas batatas fritas são vendidas neste local há séculos, apesar da remodelação e da modernização das duas barraquinhas instaladas em pleno centro de Bruges. Segundo nos confidenciaram, o segredo da pretensa qualidade da batata frita belga está nas duas frituras e na utilização de gordura animal (vaca) juntamente com o óleo da fritura. A batata é frita por duas vezes. Frita durante cinco minutos, retira-se do óleo durante cinco minutos e depois volta a mergulhar, fritando durante mais cinco minutos.
O certo é que o sabor e a textura são realmente diferentes e bastante agradáveis, com ou sem maionese ou qualquer um dos muitos ingredientes que podem acompanhar um prato de “frites”.
Não muito longe desta praça central de Bruges existe um museu dedicado à batata frita, “Le Musée de la Frite”, instalado num palácio genovês, datado de 1399. Desconhecemos se existe outro museu exclusivamente subordinado a esta temática, em qualquer outro país do mundo.
As primeiras salas deste invulgar museu são dedicadas à história da batata, cuja origem está nas montanhas dos Andes, no Peru, onde terá sido “domesticada” há mais de 8 000 anos. No século XVI, os conquistadores espanhóis descobriram este alimento milagroso e nutritivo. Existiam então cerca de 4 000 qualidades de batata, sendo que os camponeses andinos cultivavam cerca de 40 variedades diferentes.
A partir da costa do Peru, junto ao Oceano Pacífico, contornando a América do Sul, os espanhóis trouxeram a batata para as Canárias e daí para a Espanha continental. A partir de 1573, a referência à utilização da batata já aparece em documentos relativos à alimentação dos doentes internados no hospital de Sevilha.
Ainda no século XVI, de Espanha, a batata é transportada para Itália e mais tarde para a Bélgica e Inglaterra. Não encontrámos referências relativamente a Portugal mas dada a proximidade com Sevilha é de supor que a batata terá chegado rapidamente ao conhecimento dos portugueses.
Em 1724, os franceses ainda utilizavam a batata sobretudo para alimentar o gado. O padre Labat redigiu um livro onde se afirmava espantado por o povo francês continuar a alimentar-se de trigo negro e de castanhas em vez de consumir batatas, como já era hábito noutros países.
Devido às condições climatéricas propícias, foi na Irlanda que a batata mais rapidamente assumiu um papel fulcral na alimentação humana.
Quanto à origem da batata frita, esse é um mistério que permanece por desvendar. Apesar dos belgas reclamarem a primazia.

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