Opinião – Acabar com o “Inverno Cultural”

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Finalmente, um bom debate. Fartos de termos que justificar tudo através do impacto no défice e no PIB e de tentar argumentar sempre através da vantagem económica das mais elementares medidas de justiça social, finalmente temos a cultura no centro das atenções. Saibamos ser justos e agradecer ao Honrado secretário.
A cultura é a principal força de um qualquer povo ou nação. Pressupõe algum bem-estar, mas não tem que se justificar como se fosse uma rede de autoestradas ou um novo aeroporto. Um povo culto é muito mais feliz, vê o Mundo a cores, está muito mais apetrechado para enfrentar os medos e os ódios que lhe queiram vender, pensa melhor, influencia muito mais o ambiente que o rodeia.
A direita portuguesa, salvo raríssimas exceções, nunca verdadeiramente percebeu isso. Pode agora estrebuchar aproveitando as asneiras do governo PS, mas tem andado sempre mais preocupada com o número de filhos das famílias portuguesas do que com o número de crianças e jovens que fazem teatro, música, artes, ou de idosos que pasmam nos lares frente às televisões patetas. A direita portuguesa quer mão de obra acrítica, não quer cidadãos cultos e exigentes. Ao longo de dezenas de anos, em ditadura, mas também nas quatro décadas que levamos de alguma democracia, centenas de artistas, atores, bailarinos, poetas saíram de Portugal para poderem trabalhar e realizar-se. Sei do que falo.
O PS tem agora uma oportunidade para romper com essa tradição tacanha de que quase sempre foi cúmplice. Em vez de políticas de animação, como se faz em cidades que eu conheço, pode apostar a sério nos agentes culturais motores de elevação do nível cultural do povo que somos. Apoiando a produção, multiplicando os agentes culturais, organizando a difusão e as condições de acesso de todos os portugueses ao melhor que se faz em Portugal e no Mundo.
É preciso empurrar o PS para boas políticas culturais. Estão bem os partidos de esquerda e os movimentos muito variados que já perceberam isso. Não se trata de contentar regiões, nem de equilibrar capelinhas. Trata-se de enveredar decididamente por uma aposta séria na cultura como elemento chave de identidade, qualificação e soberania portuguesas.
E, se mesmo assim querem contas, que diacho, dois dias por ano do que se gasta em juros da dívida externa, repito DOIS DIAS POR ANO, serão já um importante progresso.
Do que é que estamos à espera?

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