Opinião: Viagem Presidencial

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Há mais de cem anos, no dia 8 de outubro de 1917, o Presidente da República Portuguesa, Dr. Bernardino Machado, embarcava num comboio, na estação do Rossio, em Lisboa, partindo para uma importante missão diplomática, rumo a diversos países europeus. Era a primeira vez que um Presidente da República se deslocava ao estrangeiro em visita de Estado. Foi a primeira viagem presidencial realizada em Portugal.
A Europa estava em plena Primeira Grande Guerra Mundial ( 1914-1918 ) e o propósito primordial de Bernardino Machado, era ir visitar os soldados, os oficiais e os voluntários portugueses, presentes no cenário de guerra, em território francês.
Em Santarém, Alfarelos, Coimbra, Guarda e Vilar Formoso, Bernardino Machado e a sua comitiva foram recebidos e apoiados por multidões de portugueses entusiasmados.
De igual modo, também em Espanha, desde logo em Fuentes de Oñoro e em Ciudad Rodrigo, o Presidente foi sendo recebido pelas autoridades civis e militares. Durante a paragem na estação de Salamanca, para além da receção oficial ouviam-se inúmeras vozes de apoio a “El Presidente Machado”.
No dia 9 de outubro, em San Sebastián, Bernardino Machado foi recebido pelo Rei D. Afonso XII, acompanhado pelo Ministro dos Negócios Estrangeiros espanhol.
No dia 10 de outubro, ao chegar a Paris, a comitiva portuguesa foi recebida pelo Presidente francês, Raymond Poincaré.
Os dois chefes de estado visitaram a frente de batalha, em Verdun, onde chegaram a ouvir as explosões provocadas pelos bombardeamentos. As trincheiras encontravam-se apenas a alguns quilómetros de distância.
A comitiva portuguesa integrava igualmente Afonso Costa, Ministro das Finanças e elemento fundamental da Primeira República Portuguesa ( 1910-1926 ), Augusto Soares, Ministro dos Negócios Estrangeiros, Artur Costa, Ângelo Vaz e Eugénio Tavares. Acompanhavam a reduzida comitiva alguns jornalistas do Século, da Capital, do Mundo e do Comércio do Porto.
Bernardino Machado visitou as trincheiras, falou com o general Pétain e foi testemunha da barbárie causada pelos intensos bombardeamentos. Antes de regressar a Paris, foi recebido pelo general Gomes da Costa, visitou os soldados portugueses e contactou igualmente com os oficiais, os médicos e os feridos portugueses. Esteve em hospitais e campos de treino, tendo permanecido três dias no setor português. Num dos jantares esteve presente o seu filho, Bernardino Machado, alferes de cavalaria, que integrara voluntariamente o Corpo Expedicionário Português.
A 17 de outubro, embarcaram para Inglaterra. Todos enjoaram à exceção do Presidente da República, apesar dos seus 66 anos de idade.
Nos dias seguintes foi recebido pelo Rei Jorge V. Visitou a Legação portuguesa e o embaixador português em Inglaterra, Manuel Teixeira Gomes, tendo igualmente estado presente no acampamento onde se encontravam dois mil soldados portugueses.
No dia 19 de outubro, Londres foi sobrevoada por 14 zepelins alemães que largaram diversas bombas.
No dia 21 de outubro, a comitiva regressou ao continente e no dia seguinte foi recebida em Bruxelas pelo Rei Alberto.
Regresso a Portugal onde chegaram no dia 25 de outubro de 1917.
O secretário particular do Presidente da República, Ângelo Vaz, que também integrou a comitiva, publicou em 1923 um livro com o relato desta viagem.
Em 2017, essa obra foi reeditada.
De novembro de 2017 a abril de 2018, em Cascais, está patente ao público uma exposição sobre esta primeira viagem presidencial.

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