Opinião – Oportuno e inoportuno

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Oportuno

No meu tempo de estudante dava-se latim e, assim, ocorre-me citar a frase de Cícero no senado perante a inoportunidade de um senador, em latim, que se traduz em português: “Até quando Catalina queres abusar da nossa paciência?”.

É a situação em que se encontra o mundo actual, em que os políticos desconhecem os problemas e as suas raízes e, eles, encarcerados nas suas assembleias, fazem ou apoiam as leis.

A democracia actual (contrariamente ao que devia ser) é a ditadura do voto, uma vez que só 4% da população acredita nos políticos e ainda, desiludidos, vão às eleições, com receio de que possa ser pior…

Democracia deverá ter uma definição diferente: permitir e poder actuar em consonância com a nossa consciência, ou seja, valores, que no livro “Nova Ordem Mundial” agrupamos em especulativos e operativos. Quanto aos especulativos (aprovados em Chicago em 1992, num congresso que reuniu todas as religiões e seitas), que são quatro, incluo um quinto: “Nenhum sistema político ou religião pode impedir ou frenar a investigação porque os benefícios colhidos são património de toda a humanidade”. Dá-se como exemplo as normas comunitárias sobre a investigação. Eu não podia ter feito a minha tese de doutoramento (“Linfografia directa e indirecta dos membros inferiores”) com estas normas…

A linfografia directa aprendi com o Professor Rui Martins da Rocha, do Instituto de Medicina Tropical, mas a linfografia indirecta morfológica e funcional e o sistema de quantificação é da minha autoria e hoje é designado por linfocintigrafia. Ocorre-me aqui contar que, a minha Queima das Fitas, penso, foi a única que fez uma revista. Entrámos em contacto com o Professor Egas Moniz e demos-lhe como tema leucotomia e a personalidade. Eu já considerava a leucotomia a maior manifestação de génio humano. Mas a angiografia cerebral foi o cerne da atribuição do Prémio Nobel (que os americanos lhe quiseram tirar).

Têm que ser revistas as normas comunitárias, ou pelo menos fazer uma adenda (que julgo a lei italiana ter) em que, para fins académicos, estas normas não se aplicam.

Quanto aos princípios operativos (que são onze), o primeiro é o da equidade. Em síntese, tratar os outros como gostamos de ser tratados. O segundo é da virtuosa benfeitoria / gratidão. A homenagem que me foi prestada é o expoente máximo, para a minha sensibilidade, de gratidão.

Designei este princípio de virtuosa benfeitoria para prestar homenagem ao Infante D. Pedro, primeiro Duque de Coimbra, que escreveu no Mosteiro de S. Jorge de Milréu o livro “Da Virtuosa Benfeitoria”, considerado por muitos o primeiro livro de filosofia social da Europa. Embora tenha sido o primeiro duque de Coimbra, a cidade ainda não lhe prestou homenagem, erigindo um monumento.

Foi tragicamente assassinado, porque ele e as suas tropas iam desarmadas em Alfarrobeira. As suas últimas palavras foram: “fartar vilanagem”. O corpo, mutilado, foi abandonado aos abutres…

É oportuno lembrar que, devido à partidarice, esqueceram-se do que nos devem.

O haver uma esperança de democracia… O termos enviado pelo grupo dos 25 (depois reduzido para 21 ) um telegrama ao Senhor Ministro da Educação que, após o saneamento do Professor Rodrigues Branco, se mais alguém fosse saneado na Faculdade de Medicina, que aceitasse de imediato a nossa demissão. Foi com a atuação do grupo dos 21 que se procedeu às eleições nas instituições académicas e até à reposição das tradições nestas.

Talvez seja inoportuno (mas que não seja interpretado como vaidade) citar o que me devem: a construção do novo hospital. Uma vez construído, o Conselho de Gerência a que presidia trouxe para Coimbra o centro da Medicina Portuguesa (Professor Celestino da Costa). Devem-me o ter criado o maior serviço de ortopedia da Europa, afluindo a Coimbra doentes de toda a parte do país, incluindo doentes do Porto e de Lisboa. Hoje, começam novamente a escapar-se… Devem-nos a cirurgia cardíaca, a cirurgia vascular, a ressonância magnética, a Medicina Nuclear,… Até, muito provavelmente, o Serviço Nacional de Saúde, que já existia. O instituído pelo Doutor Arnaut, o que tem a mais, são as carreiras médicas. Estas, foram incluídas porque o Professor Mário Mendes, Professor Gouveia Monteiro, António Ferreira Lobo Vaz Patto e eu (o que fez menos) fomos o sustentáculo dessa conquista. Portanto, quando se fala de António Arnaut, fala-se da sua aprovação, mas a inspiração é do Professor Mário Mendes e este facto tem sido olvidado…

(continua no próximo artigo)

 

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