Uma cola boa deve ser viscosa, mas também fluída e secar rapidamente, não deixar manchas, não permitir fungos, não escurecer depois de aplicada. Uma cola tem uma missão: agarrar ou prender algo a outra coisa qualquer. A cola é importante no casamento. A cola social é importante nas empresas. Uma boa cola envolve a direcção de um partido político. A cola dos cábulas é de curta duração, a cola dos perversos é picante, a cola dos direitos das corporações é das mais exigentes e fortes que conheço.
As celuloses usadas em colas de casa de banho por vezes enegrecem e dão aquele aspecto sujo e triste. Reparem nos envelopes que já não precisam cuspe. Observem a quantidade de produtos semelhantes para tarefas de colagem. Ele há cola rija, ele há supercola 3, ele há a velha pelikan, a UHU que me acompanhou na infância, em bisnaga, em boião, em fita, em adesivo. Quanto mais cola se utiliza nas instituições mais seguros ficamos de que a manutenção está na rua da amargura. Adesivo nos tinteiros. Adesivo nas cadeiras, adesivo nos blocos operatórios.
O preço conta nesta ciência. Cola que não destrói a pele, que é asséptica, que não cria alergias, que segura bem os sacos de colostomia, deve ser mais cara que a outra que faz tudo ao contrário.
“O cola” é o tipo que não sai, que não desgruda, que se agarra ao lugar até à morte – como o Azevedo que terá sido enfermeiro, como o Nogueira que já foi professor, como o académico que se arrasta até à reforma obrigatória. A cola é uma característica da atracção pelo poder e pela visibilidade. O instagram tem algumas colas que não largam a página com imagens suas. A televisão está pegajosa de tachos de futebol.
Há também os adesivos que se insinuam nas reportagens de rua. Os que não conseguem deixar de acenar, de vir detrás do entrevistador. A cola mais horrível que conheço em informação é contar a intimidade, o caso pessoal, a minudência do eu sempre que o micro surge. A direcção do PSD carece de cola política e teremos oposição.
O Governo depois pode explicar porque custa o barril de brent 62 euros hoje (eram mais de cem dólares com Sócrates) e a gasolina está ao mesmo preço de 2008. Os impostos são hoje muito maiores que com Passos Coelho, escondido aquilo que a cola tapou.