Opinião: Um livro d’ouro perdido

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Conta-nos o Padre Senna Freitas, um conservador culto:

“Estava eu ainda na cidade de Ponta Delgada (Ilha de S. Miguel), onde nasci e me criei, mas donde vivo ausente há mais de 30 anos, quando ali residia o nosso eminente literato António Feliciano de Castilho. Morava então Castilho, quase defronte de Filipe Quental, distinto micaelense, hoje (se me não engano) catedrático da Universidade na faculdade de medicina, e cujo sobrinho, o tristemente célebre Antero de Quental, fora meu condiscípulo na escola de Mr. Clairouin…” ( 1 ).

Infelizmente, os conservadores do nosso tempo ou melhor destruidores daquilo que social e tecnologicamente a Humanidade foi conseguindo, propõe-nos a redução do nosso acesso à informação, educação, saúde, como forma de viabilizar empresas e bancos mal ou corruptamente geridos e paraísos fiscais que até estão em cada esquina.

Tivemos na construção deste desconchavo uma ministra, Lurdes Rodrigues, que com o falso argumento de avaliar os professores, lhes foi destruindo em simultâneo a carreira e degradando as condições da sua docência. Sabemos agora com a sua classificação de ‘Inadequada’ como professora do ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa, no período 2014-16, que nem sabia ser competente. Entretanto, também as escolas foram invadidas por uma empresa disfuncional, a Parque Escolar, que além de destruir património, deu origem a processos ao seu primeiro-ministro José Sócrates.

Posteriormente, numa catadupa de contrassensos, assistimos à fusão da PT com a OI que, falida, a vendeu à Altice, que agora se pôs a comprar empresas por todo o mundo, precisando por isso de se financiar na carteira/conta bancária dos seus clientes, inventando no dia-a-dia novas formas de os espoliar. É o que também o sinto e sofro.

Antes, o BES, que tudo sabia, vendeu a muita gente papel comercial e fez-lhe desaparecer as economias e o mesmo aconteceu à PT, gerida que era pelos “competentíssimos Granadeiro e Bava, uma conhecida dupla maravilha”. E nesta vertiginosa escalada perdemos vários bancos. E para os substituir alguém comprou os CTT numa privatização mal-amanhada e quere-o transformar num banco, ficando o Povo sem uma infinidade de postos de correio nos grandes centros urbanos, onde podia enviar correio e receber as suas reduzidas reformas. Acompanham assim as cidades do litoral os problemas do nosso martirizado mundo rural que já perdeu estes serviços.

Há assim aqui como noutros setores um retrocesso e a inacessibilidade crescente aos serviços da nossa modernidade, incluindo de Internet e só por força da irresponsabilidade social de empresas e falta grave de regulação das entidades, que não só deviam disciplinar os mercados mas também defender os clientes que somos todos nós.

( 1 ) Senna Freitas – Observações Críticas e Descripções de Viagem, Typ. Livro Azul, Campinas, 1888, p. 3.

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