Opinião: Saúde – Administradorite

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Impera no Hospital – e, no fundo, em todos os serviços do Sistema Nacional de Saúde, julgo eu – a administradorite, em que prevalece a subserviência, a estatística e a economia, sem se atender à satisfação dos doentes, dos profissionais de saúde e à sua qualidade. No meu tempo, lembro-me de ter ouvido a alguns dos meus mestres que um médico deve ter, creio, 20% sabedoria e 80% de simpatia. Claro que se trata de um exagero, mas, hoje, de acordo com a publicação anual da Reader’s Digest, escalona-se assim a credibilidade nos profissionais: em primeiro lugar estão os aviadores, em segundo, os bombeiros, em terceiro os enfermeiros e em quarto os médicos. Justo ou injusto é esta a realidade, dado que, quem faz as ordens desconhece – ou por conveniência ou por impreparação – a realidade dos factos.
Começo por referir que, recentemente, ouvi um responsável da saúde, com ar sorridente ou malicioso, dizer que, futuramente, as maternidades que fizerem mais cesarianas serão penalizadas, favorecendo as que menos o fizerem. Desconhece que, neste momento, a maioria das mães terão os filhos por volta dos 30 anos e que, à medida que vai aumentando a idade, vai diminuindo a capacidade de as sacroilíacas e sínfisse púbica se distenderem, isto é, a bacia moradia da criança tem uma porta de saída mais apertada. Se não se fizer uma cesariana ou se esta tardar, pode surgir anóxia cerebral com anomalias desta ou doutra natureza. O economizar no momento é um pesadelo e encargo para toda a vida…
Tive o cuidado de ir assistir a uma consulta em que o computador, em que têm de constar todos os registos, não estava a funcionar porque não tinha eletricidade. Pouco tempo depois veio a eletricidade, mas estava sobrecarregado e, quando começou a funcionar, a primeira coisa que surgiu foi o quanto tinha gasto em medicamentos, análises e em imagiologia. Se irritado estava, mais irritado terá ficado, se se estabelecer comparação com o quanto eu também fiquei…
Por outro lado, esquecem-se que a primeira história clínica de um doente, medianamente feita, leva uma hora. Assim, no processo do doente, a maior parte das vezes o que prevalece é o relatório dos exames feitos. A estatística leva a que exames pedidos, muitas vezes caros, sejam apenas defensivos e não essenciais, porque por tudo e por nada se mete na justiça o profissional, isto é, o médico especialista ou não.
Para corroborar tudo o que disse, num Congresso Nacional de Ortopedia no Porto, fez uma palestra sobre saúde o Senhor Secretário de Estado, tendo-se alongado tanto o tempo que não houve lugar a perguntas e justificações e, assim, o que se depreendeu é que o que interessa são os números e não a qualidade do prestado e sentido.
Tudo isto já são consequências do número exagerado de alunos das Faculdades de Medicina, cujas histórias clínicas que têm de fazer pecam, quanto a mim, pelo excesso de exames pedidos e pela deficiência da história clínica. É que, por experiência pessoal, uma história clínica bem feita permite fazer um primeiro diagnóstico em cerca de 85% dos casos enquanto que, dos exames laboratoriais, só da ecografia se podem obter, em segundo lugar, resultados equivalentes. Antes, em primeiro lugar, a Medicina Nuclear que diz “que há peixe, mas não diz de que peixe se trata”. Só depois a ressonância magnética, o TAC e o raio-X.
Repensem-se os problemas, encontrem-se as soluções! Não sejamos precipitados… Que os senhores políticos que inspiram os administradores sejam mais ponderados.

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