Opinião – Cérebro e intestinos

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Hélder Bruno Martins

Depois deste título, é muito imprudente começar por dizer que decidi partilhar convosco algumas das minhas ideias. Sujeito-me a laivos humorísticos sintonizados com o título e a não ter quem se dê à tarefa de ler todo o artigo… Mas é mesmo isso que gostaria de fazer. E mesmo depois do título, é o que vou fazer.

É senso comum a noção que a alimentação nos influencia na forma de ser, de estar e de sentir a vida. Porém, apesar dos avanços de consciencialização a que temos assistido nos últimos anos, o impacto da alimentação no individuo, na comunidade, na economia e nos ecossistemas é ainda pouco valorizado. Vem isto a propósito de duas leituras que concluí recentemente e que clarificaram com credibilidade e dados científicos a intuição (que todos temos) que a alimentação, de facto, tem grande influencia nas nossas vidas.

O livro “Colesterol, mitos e realidade”, do médico Manuel Pinto Coelho, redigido para esclarecer o grande público acerca do colesterol e das últimas descobertas, foi uma dessas leituras. Basicamente, fiquei a saber que as doenças coronárias não são consequência do colesterol e que o cérebro precisa de colesterol: como refere o autor “um componente fundamental das membranas celulares, sendo ainda precursor de muitas hormonas, entre as quais os estrogénios, testosterona, aldosterona, ácidos biliares e a importantíssima vitamina D” e que corresponde a cerca de 40% da massa cerebral. O colesterol transita no intestino e é reabsorvido em cerca de 50%. O restante é eliminado através dos processos de excreção. Estatinas: só para pessoas com alto risco coronário.

O intestino está mesmo muito intimamente ligado ao cérebro, como se vê neste e noutros livros de Manuel Pinto Coelho, mas também no último livro de António Damásio: “A estranha ordem das coisas. A vida, os sentimentos e as culturas humanas”. Resumidamente, o autor afirma que os sentimentos motivaram soluções culturais para os problemas com que a humanidade se foi deparando, comparando este processo com o das bactérias que “sem mente exibirem comportamentos socialmente eficazes cujos contornos prefiguram determinadas culturas humanas”.

Para o autor a explicação está na homeostasia que, quando se processa de forma deficiente é expressa em sentimentos negativos “ao passo que sentimentos positivos expressam níveis homeostáticos apropriados e abrem oportunidades vantajosas ao organismo”.

O sistema nervoso é o responsável pela sistematização da informação produzida pelos processos homeostáticos (físicos e psicológicos) e pelos sentimentos e os afetos inerentes a cada indivíduo. O cérebro recolhe a informação bioquímica dos intestinos para o seu funcionamento. Essa informação irá influenciar a forma como os sentimentos e os afetos emergem e, assim, o seu impacto no indivíduo.

A ligação entre os intestinos e o cérebro é, portanto, muito íntima (para usar um termo bonito). Cientificamente comprovada. A vertente psicológica, sociológica e cultural são, evidentemente, muito importantes, o que torna o processo global muito complexo e de análise muito difícil.

A nutrição física é importante, mas não podemos esquecer a nutrição intelectual e cultural.

O novo jogo cá de casa é identificar as dietas de algumas figuras que nos são muito queridas (ou não)… E é tão divertido!

 

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