Opinião: Os Covões e a Maçonaria

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Diogo Cabrita

O legado histórico de uma Instituição está por vezes na sua génese arquitetónica e no pensamento que lhe deu origem. Contrariamente ao que muita gente pensa a maçonaria é um espaço de reflexão e de encontro, para a descoberta em comunhão com as verdades universais – o conhecimento, a luz.
Fernando Baeta Bissaya Barreto Rosa (Castanheira de Pera, 29 de Outubro de 1886 — Lisboa, 16 de Setembro de 1974 era Maçon e disso ninguém tem dúvidas. Pertenceu ao Rito Francês. Foi pela sua influência e decisão a escolha dos protagonistas da obra do Hospital Sanatório da Colónia Portuguesa do Brasil mais tarde – os Covões.
A entrada do Hospital dos Covões faz-se por uma alameda de pedra rodeada de jardins. A Alameda tem duas linhas retas vermelhas marcando todo o seu trajeto. Nada ali se construiu ao acaso e as acácias eram uma árvore frequente tendo nelas o simbólico de iniciar para uma nova vida. Foram destruídas nas últimas décadas e hoje são uma raridade. Já a chegada pela porta principal se fazia por três compartimentos, o 1º de aprendiz. o 2º de companheiro e o 3º de Mestre e neste estava a escada que simboliza a ascensão, o caminho para a luz – e lá está a claraboia lindíssima a criar o teto desta escada rodeada de mosaico preto e branco e por fim esse momento mágico que é a escada terminar na biblioteca antiga. Nada disto ao acaso, nada disto ao sabor do gosto livre. A biblioteca é o lugar da cultura, o espaço maior do encontro com a sabedoria e logo um lugar virado à luz. Três janelas dentro dela viradas ao Sol nascente. Tudo isto está ali, no Hospital dos Covões. A Maçonaria não é um espaço fechado e de cultos únicos. Ela transporta a tradição dos templários, o mito da Rosa Cruz, o simbólico Templo de Salomão e suas intrincadas e complexas simbologias. Assim nos jardins dos Covões (os antigos e só esses, pois os profanos foram destruindo e derrubando a sinalética e o simbolismo) a disposição das árvores era em elipse, com as maiores crescendo para dentro ( a escada em ascensão – vejam-se em exemplo as colunas na rotunda frente à Fucoli dispostas e construídas do mesmo modo) e as pérgulas encimando os jardins. Uma grande Pérgula à esquerda de quem entra no jardim dos quatro elementos, hoje destruído por gradeamentos e outros legalismos profanos. Os quatro elementos simbolizados na famosa cervejaria Trindade (em Lisboa) e ali glorificados num jardim com a Pérgula imitando outra, a do Palácio de Salomão.
A ideia de um conhecimento que nunca se fecha, que nunca se impermeabiliza. Assim o vale que é este jardim tem quatro escadas e estas são caminhos e representam os elementos. Uma sobe para um jardim destruído onde haviam sebes simulando labirintos e bancos em esquadro. Este espaço fica em frente à biblioteca nova (onde não entra revista física nova faz anos) e é um ícone da acção profana sobre a obra de Bissaya Barreto. Noutros jardins os bancos são em semi circulo. Não olhe os monstros de cimento, as estruturas profanas de bidonville por ali deixadas profanando a iconografia do saber e do conhecimento.
Os Covões tinham pois esta força simbólica e este projecto de serviço e de conhecimento enraizado na sua missão, mas Bissaya Barreto, como muitos outros homens importantes, rodeou-se de gente que não lhe fazia frente, de gente que não transportava mais valias, de muitos de servir-se e poucos de servir. Assim os pedreiros foram deixando morrer a obra.
Os Covões são o exemplo da delapidação patrimonial e da perda de importância da Maçonaria em Portugal, ou pelo menos da perda de saber e de grandeza dos seus membros que nem em defesa da obra dos grandes pensadores e seus irmãos têm vindo a terreno explicar a importância desta instituição.

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