O coração bate mais forte a pendurar os lacinhos na árvore com a mamã, a pensar nos abraços que daremos ao papá, a ouvir as músicas felizes, a sentir o frio na rua e a provar um bocadinho dos sabores que nos devolvem a infância.
No hospital, pelas enfermarias, serviços de urgência, consultórios, átrios e jardins espalham-se as luzinhas, os presépios, as árvores de Natal e os bonecos de neve, feitos de copos de plástico, luvas, seringas e fitinhas douradas. Num serviço em que estive recentemente, há até um concurso de calendários do Advento, feitos pelos profissionais e expostos nas paredes da enfermaria.
Programam-se as altas dos doentes em que se prevê que “vá correr tudo bem”, para chegarem a casa a tempo da Consoada. Desejamos “boas festas” quando nos despedimos. E assim vamos sentindo o Natal na nossa segunda casa.
No serviço onde trabalho, fazemos uma lista de quem estará a trabalhar no Natal. Enfermeiros, médicos e assistentes operacionais do bloco operatório e do recobro, dividimos tarefas e definimos a comida que cada um levará para partilhar. Poremos a mesa com toalha de papel, faremos chá com as tangerinas de casa, no fervedor que alguém trouxe e que nos traz o quentinho do conforto quando o cansaço é demasiado. Porque, por estes dias, para gozarmos algumas férias, trabalhamos o dobro quando lá estamos.
Por todo o país, ao lado de meninos e meninas pequeninas, de velhinhos com saudades do passado, de pessoas com deficiência, de doentes nas unidades de cuidados continuados, todos os cuidadores continuam a sê-lo nos dias em que a família é para abraçar, para encher de mimo. E, mais profundamente que nos outros dias do ano, o mimo é só e todo para quem está doente.
Com a baixela de plástico e guardanapos que vão parecer de pano, em todos os serviços de saúde, na noite de dia 24, há uma mesa improvisada com os banquinhos trazidos dos gabinetes de trabalho. Cada um se orgulhará da receita que fez em casa ou que trouxe da pastelaria favorita. Há gargalhadas, contam-se histórias, relativizam-se os problemas, criam-se laços e partilham-se momentos. Num jantar também por turnos, é a partilhar e a sorrir que – chamando só pelo nome de cada um, sem olhar a classes profissionais – preenchemos o nosso coração de amizade e respeito. Fazemos uma chamada por vídeo para casa, em que os bebés da família e os cães com bandoletes de rena dizem adeus para o telemóvel e os pais se comovem por estarmos ali, longe mas perto, porque “faz parte”. E é, também isso, que clarifica o que é importante: valorizar o amor, todos os dias.
A mesa fica posta até ao almoço de dia 25, em que uma equipa diferente traz de casa o melhor que sabe fazer, para partilhar, começando tudo outra vez.
Defendemos os doentes todos os dias de formas diferentes. Alertamos para a falta de material, a desorganização, a exaustão, porque queremos dar-lhes o melhor. Temos a certeza que muitos governantes não pensam neles em primeiro lugar, esquecendo-se que são a única razão pela qual há serviços de Saúde.
O Pai Natal trará os melhores presentes: o espírito de equipa, a lealdade para com os doentes e a solidariedade, porque ninguém, naquela noite, estará sozinho. Bem-haja a todos os que dão o seu melhor, todos os dias, crescendo como equipa.
Festas felizes.