Opinião – Incêndios – ilacções

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Norberto Canha

 

Fiquei altamente sensibilizado com dois factos ocorridos no Natal. Primeiro, o facto de Sua Excelência o Senhor Presidente da República ter passado o Natal com as populações das áreas incendiadas e ter convivido com elas. Em segundo lugar, com o facto de o Senhor Primeiro Ministro ter anunciado em tão curto espaço de tempo o restauro das habitações.
Mas o problema fulcral do passado recente (que começou com a entrada para a União Europeia), do presente e do futuro é que foi totalmente destruída a agricultura portuguesa. Os produtos são quase todos importados, sustentando a ganância dos supermercados, acrescidos dos impostos sobre eles lançados (de que também o Estado tira proveito).
Adverti, quando isto começou a acontecer, que a agricultura era uma actividade estrutural, que tinha de ser o Estado a definir as regras e que já não podia pagar impostos. Defendi que era indispensável que se reactivasse o Complexo Agro-industrial do Nordeste – Cachão – e que se criassem estruturas equivalentes em todos os distritos do país.
Eu tinha conhecimento desta realidade porque era presidente de uma cooperativa que impedi que falisse (até dava lucro) e era agricultor. Criei a melhor agricultura do meu concelho e dava emprego a cinco cabeças de casal ou famílias. Tudo colapsou.
Hoje, com a desertificação do interior, desertificação rural, quer-se apanhar azeitona e não há quem a apanhe. Próximo da Guarda, um meu colega dava-a a quem a apanhasse, mas não encontrou ninguém que o quisesse fazer, e uma minha colega que tem uma herdade no Alentejo dá-a gratuitamente aos ciganos para a apanharem e não sei se terão como retorno um garrafão de azeite.
Estruturas como as cooperativas e complexos é a solução, e a prática de um preço justo necessário para a recuperação da agricultura. Mas o Estado tem que conhecer os problemas, que, hoje, são múltiplos. Os olmos morreram, os pinheiros começaram a ser invadidos por larvas que perfuram os troncos donde se escoa a resina, ou se implantam na folhagem, agonizam e morrem. Tudo isto resulta de que não haja aves para as procurarem e comerem, que não haja pica-paus para as apanharem e delas se alimentarem. Os castanheiros – castanheiros centenários – estão a morrer pela tinta (fungo das raízes). As oliveiras estão, muitas delas, a ser atingidas por epidemias equivalentes. Desconhecemos a quem nos dirigir para suster esta epidemia, onde arranjar híbridos atempadamente, e que sejam resistentes a estas doenças.
Não vá o Estado impôr – desconhecendo os custos – a limpeza das florestas e dos campos para evitar os incêndios…
Ao não poder pagar impostos, referimo-nos a todo o tipo de impostos, como aqueles sobre os combustíveis utilizados na movimentação das máquinas e não apenas dos impostos sobre as propriedades.
Só reabilitando a agricultura e a pecuária, com assistência local, como já houve, é que é possível frenar a emigração e diminuir o número de sem-abrigo e pedintes (coitados) que existem nas cidades, sobretudo em Lisboa e no Porto.
É preciso que reapareçam animais como cabras e ovelhas, para se apascentarem entre o arvoredo ou florestas, que comam as silvas, estevas e giestas como as cabras. É preciso que tanto porcos como galináceos surjam nas aldeias… Para que haja estrume para alimentar as plantas e não grandes pocilgas cujos dejectos são encaminhados para os ribeiros para poluir as águas. É preciso que os insecticidas e herbicidas deixem de ser praga maior do que a própria doença. É preciso que a investigação desça ao campo e não se concentre nas cidades. É preciso que os políticos convivam com as populações, que oiçam os seus queixumes, que vivam a realidade e que não se inspirem apenas em consultas da internet, pois que saber sem saber fazer é igual a uma nulidade. Nas estações de televisão não se discute a realidade, mas apenas as banalidades e na imprensa não se vai além disso…
(Consultar o livro EIVA, sobre este tema, em: https:
//norbertocanha.wordpress.com/2017/05/16/eiva/ )

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