Opinião: Coimbra 2021

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Norberto Pires

As eleições autárquicas realizaram-se em setembro de 2017. Milhares de promessas foram feitas, meia dúzia de coisas lunáticas foram apresentadas como solução para a degradação visível e que ameaça tomar conta do concelho, dezenas de milhares de euros foram gastos em coisas inúteis. De tudo o que foi dito, da economia que ameaça colapsar, do comércio ligado às máquinas, da total incapacidade para atrair empresas, dada a total ausência de estratégia, da total incapacidade de coordenar a ação de dois ou três polos que têm, ainda, algum potencial para mudar a sina do concelho, nada foi particularizado, nenhuma equipa foi formada, nenhum assunto debatido, nenhuma ideia agregadora e geradora de atividade foi dinamizada, nada… o vazio é total.
Coimbra comporta-se como um aristocrata velho e totalmente falido. Nasceu em berço de ouro e tinha tudo à sua disposição. Em vez de potenciar o que tinha recebido, decidiu viver de rendimentos e do património. Não precisava e tudo o que tinha parecia imenso, inesgotável. Não cultivou amizades, antes pelo contrário desenvolveu a estranhíssima ideia de que os outros teriam tanta honra em ser seus amigos que eles próprios a procurariam. Por isso, Coimbra era a capital de tudo: da saúde, do conhecimento, do empreendedorismo, etc., de qualquer coisa que lhe viesse à cabeça. Com tudo isto, não cuidou de se preparar para o futuro. Foi vivendo do passado e esqueceu que o facto de ser antiga não significa que seja eterna. Os vizinhos, sem universidade, sem hospital central e universitário, sem um passado grandioso, sem riquezas patrimoniais e culturais tão significativas, sem um passado histórico tão relevante, foram humildemente cuidando da vida. Estudaram, prepararam-se, organizaram-se, cresceram, prosperaram e ultrapassaram o aristocrata que, entretanto, por nada fazer, faliu. Hoje, olham-no de soslaio e falam mal dele apontando-lhe os defeitos. Mas o mais grave é que o aristocrata, apesar de falido e apresentar já visíveis sinais de miséria, continua altivo, senhor do seu nariz, incapaz de parar a trajetória de degradação e de miséria. Sonha com festas e homenagens, coisas grandiosas, do passado, não tendo bem clara a sua situação real e muito menos a dimensão do esforço que vai ser necessário para inverter o rumo que o conduziu a esta situação de dependência.
Leio que na ultima assembleia municipal, por entre relatos de empresas que apontam taxas exorbitantes, incapacidade de verem na câmara um parceiro que se preocupa com o seu futuro e percebe que tudo tem de ser feito com celeridade porque o mundo é competitivo e não espera por nós, se aprovou a DERRAMA pela taxa máxima. O aristocrata não conhece a sua própria realidade.
Não vejo, nem ouço, nada sobre o futuro do iParque. A cidade aristocrata, apesar de falida, não precisa de empresas. Não vejo, nem ouço, nada sobre a baixa da cidade, sobre a sua urgente reforma e dinamização. A cidade que tinha tudo não precisa de comércio e não percebe o enorme potencial que tem na baixa e na ligação ao rio. Não vejo, nem ouço nada, sobre a urgente necessidade de dar visibilidade ao polo da saúde, junto aos hospitais da Universidade de Coimbra. Qualquer pessoa que visite o polo II da Universidade de Coimbra fica abismado. A cidade da saúde, a capital de tudo e mais alguma coisa, vê o acesso ao seu polo de saúde fazer-se através de uma bomba de gasolina. Alunos, professores, investigadores, empresários, acedem a esse local de excelência à saída de uma rotunda e através de uma bomba de gasolina. Ao que percebo, a concessão da famosa bomba de gasolina vai ser renovada e tudo continuará ilegal e por licenciar, tapado com taipais de obra, com mata por remover e mostrando bem o desleixo e desinteresse com que tudo se faz em Coimbra. A cidade aristocrática ainda não percebeu a dimensão da sua falência. Os hospitais da universidade são a confusão diária que são. No estacionamento, nos acessos, na incapacidade de se reformar e na ausência de perceção da realidade. Ao largo, em Leiria, em Aveiro, em Viseu, os mais humildes fizeram pela vida, cresceram e, em breve, sem respeito pelo aristocrata, exigirão o seu espaço e o necessário investimento público. Neste cenário de acelerada perda de influência e de degradação, resta a Coimbra ser capaz de construir uma alternativa de futuro em 2021 que seja capaz de iniciar o caminho de recuperação, o qual será muito longo e difícil.

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