Opinião: A Caminho do Abismo

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Ricardo Castanheira

Os jornalistas desempenham uma função cívica de extrema importância. Raramente nos damos conta – e essa desatenção está a pagar-se cara – mas o mau jornalismo poderá ser tão danoso para a democracia e sociedade como os maus professores para a educação, os maus médicos para a saúde ou os maus magistrados para a justiça.

Fala-se muito da importância da qualidade do ensino nas faculdades de medicina e de direito, mas raramente se ouve o mesmo discurso para as escolas de jornalismo. O mesmo se diga sobre o protagonismo das respetivas ordens profissionais por comparação com o sindicato – o que por si só já é uma diferença – dos jornalistas, ou até mesmo do papel reservado à entidade reguladora do setor.

Com o avanço da internet e a profusão de novas tecnologias mudaram os nossos hábitos de consumir informação e, consequentemente, de a produzir. Os meios de comunicação social – especialmente os jornais – entraram numa crise sem precedentes. E os novos modelos de negócio digital estão a aniquilar o jornalismo como o conhecíamos.

Os milhares de notícias falsas que diariamente circulam pela internet, e em especial se multiplicam nas redes sociais, estão a condicionar a forma como convivemos, as nossas escolhas políticas e a salvaguarda de direitos fundamentais. Em suma, as nossas liberdades estão postas em causa. E isto é também consequência do descrédito no jornalismo e nos jornalistas. Qualquer alternativa serve…

Há notícias falsas que são criadas com finalidades objetivas de polarizar e influenciar a opinião pública em determinado sentido. Muitas vezes o objetivo é intencionalmente o de desinformar. Outras vezes apenas o de gerar lucro para sites monetizados com publicidade. Todavia, os algoritmos não podem tudo justificar e a tecnologia deve ser usada para mitigar os efeitos perversos dela mesma, quando em causa direitos fundamentais.

Evidentemente é preciso um quadro regulatório do ambiente digital que proteja os autores de informação fidedigna e de qualidade – que por isso tem custos e devem ser compensados; assim como estender ao contexto virtual as responsabilidades editoriais que existem no “mundo analógico”.

Mas para tudo isso é essencial que os jornalistas se envolvam crescentemente no “fact-checking” – sejam eles próprios agentes ativos da verdade informativa; e que conquistem a confiança da opinião pública.
Se nada for feito estamos a conduzir-nos todos para um abismo informativo, que encerra em si o fim das democracias como as conhecemos.

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