Acreditar na capacidade da bienal se impor no mundo da arte contemporânea

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FOTO DB/LUÍS CARREGÃ

A bienal Anozero recupera na cidade, de certa forma, uma prática de vanguarda cultivada em diversos momentos, nomeadamente no Círculo de Artes Plásticas de Coimbra (CAPC)?

Sem dúvida. Por exemplo, a partir de 1970, Alberto Carneiro experimenta no CAPC, onde foi convidado para dar aulas, tudo o que não podia fazer nas Belas Artes, onde também era professor, naquela que foi uma verdadeira transformação naquilo que era o entendimento da prática da arte contemporânea em Portugal. E isso deve-se muito à energia que Alberto Carneiro trazia da sua estada na Saint Martin’s School, em Londres, o epicentro do ensino e da intervenção artística no mundo.

Alberto Carneiro encontrou aqui esse círculo de liberdade?

Essa é a expressão correta. Alberto Carneiro encontrou aqui um círculo de liberdade onde pôde ensaiar aquilo que era mais relevante e que eram as boas práticas no ensino artístico no mundo. Éramos então o mais contemporâneos que podíamos ser.

Em Coimbra?

Sim, em Coimbra. E isso, curiosamente, é uma coisa que tem acontecido reiteradas vezes, em Coimbra e no Círculo de Artes Plásticas. Temos sabido encontrar, pelo menos aqueles que me antecederam, no Círculo, o lugar que é o do domicílio das vanguardas. Foi assim nos anos 70, foi assim nos anos 80, foi assim nos anos 90. Possa eu ter energia para ser assim no início desta década.

Esta bienal é já um indício.

Que não me compete a mim julgar. Mas acredito verdadeiramente que sim. Inclusivamente com a expansão do gesto que representa. A bienal já não é só uma coisa local, já não é só uma coisa nacional, a bienal começa a encontrar um eco e um lugar que nós não suspeitaríamos, pelo menos os mais céticos, no início, há dois anos.

Na sua segunda edição?

Sim. Isso é verdade. E isso reflete-se em tudo. Reflete-se nos contactos que temos de entidades estrangeiras interessadas em saber mais sobre a bienal, nos jornalistas estrangeiros que vêm ver a bienal, de diretores e centros de arte a virem ver a bienal, de propostas de empresas para se associarem à bienal como mecenas em edições futuras. Tudo isto está a acontecer, nós não nos deixamos deslumbrar de todo. Este é apenas o começo de uma coisa que nós acreditamos ser a capacidade de a bienal se impor no mundo da arte contemporânea. E é o reconhecimento de uma equipa de trabalho muito vasta de que eu sou apenas o rosto. São pessoas de uma qualidade absoluta e só com uma equipa tão coesa e tão dedicada, é possível fazer uma bienal com a qualidade que esta está a demonstrar.

Uma qualidade que parece estar a impor?

Sim. Também por uma circunstância que é uma coisa má. O facto de não haver em Portugal um evento de arte contemporânea de grande escala, permite que a bienal Anozero, em Coimbra, ocupe um lugar, eu diria ibérico, que não existia.

A dimensão ibérica é uma ambição?

Claramente, a dimensão ibérica é uma coisa essencial. Não consigo perceber como é que, mais cedo, não se estreitaram laços com Espanha, apesar de alguns movimentos nesse sentido, nos anos 80, mas apenas entre artistas. Eu acho que nós ganhamos muito em estar associados a um país como Espanha, como a inversa também é verdadeira. Ganharíamos muito em vibrar a um mesmo ritmo. Na primeira edição tivemos uma presença forte de Espanha, nesta edição volta a acontecer, até do ponto de vista dos apoios, com a Inelcom a apoiar a peça do Julião Sarmento, e que eventualmente poderá tornar-se num parceiro “sério” nas próximas edições.

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