Opinião: Um passeio pelo Choupal

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Gil Patrão

Na última tarde de um outubro muito quente e radioso, num ano marcado tristemente por tantas tragédias, a Mata Nacional do Choupal mostrava algum do esplendor que já teve em tempos idos, quando alguns Governos a transformaram num espaço público de lazer. Hoje, acede-se ao Choupal por zonas com maus odores, provindos de um saneamento deficiente. E, apesar dos trabalhos em curso, ainda há muito por fazer, para recuperar e reflorestar uma mata tão bonita.
Deambulando ao longo dos diversos trilhos que atravessam uma mata serena, em que algumas árvores de grande porte ainda resistem, observa-se descuido na sua manutenção, pelo que esta Mata Nacional, inserida num espaço urbano, evidencia a falta de cuidado que o Estado coloca na preservação do Ambiente. Para além de árvores esgalhadas, há outras derrubadas a apodrecer nos terrenos. Ainda há muitas silvas por arrancar em espaços que deviam estar cuidados. E há águas estagnadas que transformam charcos em tanques de podridão, apesar de haver algumas obras hidráulicas que, se forem melhoradas, poderão renovar tais águas, e assim as vivificarem.
Em grande parte desta mata continua a haver uma barreira que, por incúria, afasta o Choupal do rio, onde as águas correm num remanso murmurante. A zona desportiva há muito devia ter sido ampliada e ter aturada manutenção, a mesma que devia haver nos circuitos de manutenção física existentes, mas que se tem ocorrido, nem parece. E nos canteiros que eram mostruários de ervas aromáticas silvestres, pouco resta, enquanto no repositório de alguns engenhos de antanho, de movimentação de água para diversos fins, falta água e acessórios para mostrar como, do sarilho à nora, os mesmos funcionavam outrora. Já o centro de reprodução do caimão – a ave admirável, e não o réptil – está extremamente degradado. Mas foi para lá que, de repente, um esquilo saltou, provando que o Choupal poderá ficar pleno de vida, se houver o cuidado de lhe dar mais vida!
O Choupal continua belo, na tranquilidade e altivez de uma mata que, mesmo maltratada por quem a devia preservar, aguarda que um dia haja quem preze a beleza que Coimbra tem dentro de portas. Nela decorreu, neste verão, uma atividade meritória que permitiu, a alguns dos mais infantis, conhecer a mata. Mas na região há imensas crianças, jovens, adultos, e até reformados, que fruiriam melhor do Choupal, e nele passeariam mais, se fosse servido por bons transportes públicos, tivesse animação ao longo de todo o ano, e condições de acolhimento mais dignas.
Governo e Câmara disputam a posse desta Mata Nacional, mas se um pouco nela investe, mas dela não abre mão, a outra, que nem dos seus poucos jardins trata bem, quer avocar o Choupal. Mas, para o revitalizar, para além de dinheiro, será preciso inovar. Coimbra forma biólogos, engenheiros florestais, do ambiente e civis, médicos veterinários, e outros futuros profissionais que poderão vir a ajudar a regenerar esta Mata Nacional, se Governo, Universidades, Institutos, com o apoio da Câmara, gizarem programas multidisciplinares que juntem alunos de alguns destes cursos, e transformarem o Choupal num laboratório vivo, como já devia ter acontecido! Sem esquecer que com tantos desempregados, sem-abrigo e arrumadores de carros na cidade, recuperar e manter o Choupal poderá permitir que alguns reassumam uma dignidade perdida…
As horas voaram, até a escuridão começar a ocupar o Choupal. Como, embora desfeado por postes de betão e cabos elétricos, não há iluminação pública no Choupal, escassos desportistas, raros pescadores e poucos passeantes de bebés e animais de companhia, rumaram à saída de uma mata que, se pudesse falar, diria a Coimbra que a perfilhe, antes que a incúria do Estado (que como bem sabemos, apesar de às vezes o esquecermos, somos todos nós), a mate de vez!

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