Opinião: O Tempo dos Cromos…

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Ricardo Castanheira

A fidelidade eleitoral está intimamente relacionada com a ideia de liderança. Dito de outro modo, os cidadãos deixaram de votar em ideias e programas – até porque muitas vezes os mesmos não são fatores de distinção objetiva – e atentam cada vez mais nos rostos e líderes apresentados a sufrágio.

Concordemos ou não, mas a recente vitória de Isaltino em Oeiras, e apesar da particularidade das eleições autárquicas, é disso um bom exemplo. A personalização do voto na sua plenitude. É um caso ainda mais paradigmático, porquanto nem os casos judiciais que envolviam o candidato demoveram a escolha dos eleitores, da esquerda à direita.

Apesar da insistência na preservação dos traços ideológicos – e os mesmos não são desprezíveis – a verdade é que o alheamento dos cidadãos face à coisa pública e à política obriga a mudanças na forma como se encontram e comunicam as soluções para os desafios da governação, seja de cidades, regiões ou países. Acresce, que existe uma fulanização e uma personalização crescente das escolhas eleitorais e é uma tendência inexorável.

Isto mesmo está a ser confirmado por análises académicas. Esta semana, o “Público” dava conta do artigo Prime ministers in the age of austerity: an increase in the personalisation of voting behavior, co-autoria da politóloga Marina Costa Lobo, segundo o qual “nessa realidade fluída que é a nossa, vemos que o líder partidário é central para o sentido de voto dos portugueses”, entre outras conclusões específicas sobre o impacto da crise económica na forma como os partidos são percecionados.

Assim sendo, as competências individuais, as experiências profissionais e de vida e o eterno carisma contam cada vez mais para mobilizar vontades e, assim sendo, na definição das lideranças. Esta é uma realidade nova no atavismo partidário português, onde regra geral “a mercearia interna” e a “contagem das fichas” foi quase sempre o critério primeiro de seleção. As eleições diretas abertas a simpatizantes e os desejáveis círculos eleitorais uninominais ajudarão a mudar o paradigma. Claro está se quiserem reconciliar os cidadãos com a política!..

E para provar que o fenómeno é global, acabo de ler, que, no Brasil, Bernardinho (selecionador nacional de voleibol e diversas vezes campeão olímpico) e Luciano Huck (um dos mais reconhecidos apresentadores de televisão) – a quem não se conhece uma ideia política – são mais do que prováveis candidatos às eleições presidenciais do próximo anos.

A lógica dos “cromos” é imparável!

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