Opinião: Mário Neto

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José Fernando Correia

A desdita colheu Mário Neto na curva dos 70 e picos anos. Mesmo que não fosse exatamente inesperado, o seu desaparecimento deixa uma profunda consternação em todos aqueles que com ele privaram.

Mário Neto, figueirense, engenheiro de formação, teve uma vida civicamente intensa. Dirigente estudantil no instituto Superior Técnico, foi preso político em meados dos anos 60, cineclubista, professor universitário e deputado municipal, entre muitas outras facetas. Homem confessadamente agnóstico, cultivava, todavia, de forma muito particular, a dimensão imaterial da experiência humana. Não era, por isso, um homem de uma só tecla. Tudo lhe parecia interessar e de tudo sabia imenso. A arte, a história, a política, a filosofia, a religião, a astronomia, tudo eram bons assuntos para o Mário Neto.

Uma figura quase renascentista, ao estilo de Leonardo da Vinci ou de Pico della Mirandola, capaz de ter um discurso motivante e encorajador sobre a humanidade e sobre o mundo a partir da sua experiência pessoal, das suas leituras, das suas viagens.
Mas a essa craveira intelectual ímpar, o Mário Neto juntava uma outra característica: a de uma humildade imensa. A humildade que distingue os homens cultos dos sabichões.

O despojamento que só está ao alcance dos verdadeiramente grandes. Era, por isso, procurado por muitos – mesmo se, depois da aposentação, se tenha ensimesmado um pouco – para o puro prazer da conversa, sempre cordata e afável, donde invariavelmente se saía mais ilustrado. Mário, meu querido amigo, meu ilustre mestre, até um dia!

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