Opinião – Viagens perigosas

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Aires Antunes Diniz

Sempre as viagens e a redução do tempo em que se fazem foi um elemento que mede o desenvolvimento de um país. Por isso, num livro fabuloso sobre uma Europa que então se desenvolvia, Tim Blanning conta que Richard Twiss em 1772 fez uma viagem que relata: “Passámos o rio Mondego sobre uma ponte de três arcos. Dois bois foram acrescentados à sege para ajudar as mulas a puxá-las. Quando chegaram ao cimo, deixámos as mulas descansar uma hora, e depois passámos uma ponte de um só arco, e então a estrada tornou-se excessivamente perigosa, sobre pedras soltas, solo profundamente argiloso, e precipícios escorregadios”. Concluiu por fim que isso fez com que se tornasse mais generoso com que o que encontraria a seguir em Espanha ( 1 ).

Tudo mudou depois e as viagens tornaram-se mais rápidas, deixando até de ser castigo ser degredado para Vila Real ou Bragança. De facto, a história mostra como tudo ficou mais próximo se medido em tempo de viagem. Mas, nos últimos anos a introdução pouco assisada de portagens nas vias rápidas do interior obstaculizou a sua escolha como mercado de bens e serviços, e até como produto turístico.

E não foi pequeno o perigo causado assim pela sua desertificação. Sabemos.

De facto, o fim-de-semana de 15 e 16 de Outubro mostrou como a incúria na gestão do território, expressa pela multiplicação de fogos, tornou penosas e perigosas algumas deslocações nos denominados territórios de baixa densidade que, por o serem, se tornaram lugar de repouso por serem também de isolamento.

Analisadas as circunstâncias destas viagens, essa perigosidade/penosidade recente decorreu dos incêndios em estradas rodeadas por árvores de fácil combustão, obrigando a pensar melhor como as estradas devem ser construídas e também arborizadas para serem valorizadas também pelos viajantes. Tornaram-se também perigosas as viagens de comboio como resultado dos incêndios nas florestas e campos de cultivo agrícola que ladeiam a linha férrea. Agora, apagados os fogos, o perigo decorre da possibilidade de derrocadas e deslizamento de terras.

Tudo mostra como é importante respeitar-se a natureza para que obtenhamos tudo o que de bom ela nos pode proporcionar.

De facto esta perigosidade, se não for mantida em nível aceitável, pode diminuir a atratividade do país como destino turístico e, a curto prazo, também a montanha e as suas estradas sinuosas como lugares de lazer podem deixar de o ser.

Agora que o frio está aí e a chuva também, aproveitemos o tempo para planear viagens e viver o dia-a-dia, esperando e exigindo também que os poderes públicos executem as medidas que as tornem mais seguras e o nosso quotidiano mais feliz.

( 1 ) Tradução própria de um texto de Tim Blanning – The Pursuit of Glory: Europe 1648-1815, Penguin Books, England, 2008, p. 13.

 

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