Opinião: O mal

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José Fernando Correia

 

 

Numa iniciativa curiosa, o Livre proporá que o Município de Lisboa assinale a passagem de Hannah Arendt (HA) pela cidade como uma placa ou um pequeno monumento junto à casa onde viveu a filósofa, enquanto foi refugiada na nossa capital.

Para o grande público, ficou muito marcada, no percurso intelectual e ético de HA, a singular leitura que fez do julgamento e execução do oficial nazi Adolf Eichmann, ocorrido em Jerusalém, já nos anos 60. A filósofa judia, acompanhou, enquanto enviada do New Yorker, o julgamento do militar alemão e surpreendeu-se com o estilo que Eichmann afivelou no julgamento, descrevendo-se como um mero burocrata que cumpria, amoral e acriticamente, as ordens que lhe eram dadas no âmbito da chamada “solução final”.

Tendo feito fé no testemunho de Eichmann, HA escreve um conjunto de artigos em que discorre sobre o conceito de “banalidade do mal”, argumentando que o exercício do mal não precisa de especial premeditação nem de espíritos especialmente tortuosos. Umas ideias políticas sinistras servidas por funcionários zelosos são suficientes.

Essa avaliação, quase indulgente, sobre a figura de Eichmann, resistiu ao teste do tempo, posto que lhe tenha valido a inimizade de inúmeros grupos de judeus.

Mas, bem vistas as coisas, nem são precisas ideias políticas sinistras para o mal, num sentido absoluto, se espalhar pelo mundo. Programas políticos aparentemente bem intencionados podem servir para dar corda à mais miserável miséria humana. A revolução russa, a de outubro, a vermelha, está a fazer 100 anos…

 

 

 

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