Diogo Cabrita

O som é como um perfume, que nos envolve. Pensamento positivo.

O som é o fumo de cigarro da mesa ao lado que nos incomoda. Pensamento negativo.

Um som colocado a ocupar espaço de silêncio é algo que nos perturba e nos cansa.

O som devia ser tão limitado como o tabaco. Ver um tipo com o telemóvel a distribuir canções ou histórias é horroroso. Ter de aguardar na sala de espera enquanto alguém coloca alto as suas músicas ou suas conversas é perturbador. Se todos ouvirmos alto as anedotas, os gracejos, os vídeos do Youtube fazem da sala uma nuvem de fumo que retira espaço de intimidade.

O silêncio, como o ar despoluído, alindam a nossa vida. As barracas de feira aos berros, umas junto das outras, numa mestiçagem de gostos, numa interpenetração ébria de ruídos. Tudo isto é poluição sonora. A música mais delicada para mim pode ser uma barbaridade ao meu amigo. Depois seríamos democráticos e ele verteria seus paladares inenarráveis nos meus ouvidos. A Tv e o rádio ao mesmo tempo no mesmo café, náusea. Os meninos aos gritos, agarrados a uma mesa porque os pais preguiçosos não os levam ao parque- horror. O cão no pátio fechado a uivar dia e noite – crime de posse indevida por quem não estava habilitado a usufruir a liberdade do animal. O som pode indicar perigo e ser protector. Os carros eléctricos sem som são perigosos e podem ser mortais num estacionamento ou numa rua onde crianças brincam. O som é pois necessário e importante, mas a destruição do silêncio por sons indevidos ou desnecessários é um absurdo e uma violência, como é o fumo nos lugares públicos ou nos espaços partilhados. O som não é forçosamente bom e a música também não. Esses patetas carregando seus estereofónicos ao ombro, boné de pala nas costas, são invasores do espaço alheio, são delinquentes do sossego. Como são assassinos do silêncio as colunas dos municípios nas ruas. O silêncio cria-lhe desconforto? Vá ao psiquiatra! Não está de bem consigo próprio.