Opinião: Incêndios

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Serpa Oliva

Confesso que hesitei muito se havia de partilhar convosco algumas reflexões sobre esta inacreditável tragédia que se abateu sobre o nosso distrito, e por todo o Centro e Norte de Portugal. Começo obviamente por me curvar perante as 36 vítimas já contabilizadas, sendo que 16 eram do nosso distrito. Às famílias, a minha completa e total solidariedade.
Vivi eu também, parte desta tragédia, pois para além de me encontrar a passar o fim-de-semana em Melo, junto a Gouveia, apercebi-me das condições climatéricas que estavam efetivamente no limite e propícias à tragédia que se foi desenvolvendo. O vento quase ciclónico, e as temperaturas a roçar os 35º deixaram antever desde muito cedo que estavam criadas as condições para mais um dia infernal no que concerne a esse terrível flagelo.
Apesar de tudo isso não posso deixar de colocar algumas questões que me parecem pertinentes e para as quais não consigo obter resposta.
Porque é que a fase Charlie termina em 30 de Setembro, sabendo todos que as condições climatéricas este ano se iriam prolongar no que concerne às temperaturas do ar?
Tal situação levou a uma redução de 50% nos efetivos e uma frota de aviões reduzida a metade. Seria difícil prever o que poderia acontecer?
Trata-se no fundo da mesma situação que acabar com os nadadores-salvadores em datas determinadas quando as nossas praias continuam cheias de banhistas.
Como é possível perceber o descontrolo completo que aconteceu neste último domingo sobre quem tinha a responsabilidade de nos proteger?
Tal descontrolo chegou ao ponto de haver auto-estradas abertas sem o mínimo de condições de segurança.
Onde esteve o nosso exército? Constituído por milhares de homens que poderiam ter sido uma ajuda crucial. Existem sessões de formação ao longo do ano envolvendo todas as forças? As mesmas obedecem a um único comando?
Muitas mais questões haveria a colocar, mas não posso deixar de citar um grande Amigo, José Miguel Júdice, comentador de um canal de televisão e que na segunda-feira dizia “a nossa guerra, a guerra de Portugal, é com o fogo e não com qualquer país Europeu, Asiático ou Americano. Então todos os nossos esforços militares nestas fases críticas devem estar ao serviço do combate a esse terrível flagelo”.
É impressionante como não utilizamos essa força que além de tudo deveria ter uma enorme fonte dissuasora no que concerne aos incendiários que, em meu entender, este ano, por razões que ainda não consegui perceber, me parecem tratar-se de autênticos profissionais a soldo de alguém que ganha com estas tragédias.
Parece-me sinceramente que era necessário para aqueles que foram apanhados em flagrante delito, perceber se havia ou não uma ligação que nos pudesse fazer querer tratar-se de um grupo organizado.
Muito se tem falado das responsabilidades do governo nestas duas tragédias que caíram sobre o nosso País. A questão não se põe tanto em termos de culpa mas sim na falta absolutamente comprovada de coordenação e, mais do que isso, de falta de previsão.
Não se trata de demitir este ou aquele, mas sim de assumir que já não há mais razões que justifiquem a continuação em lugares de enorme responsabilidade.
Confesso-vos sinceramente que não consigo perceber como a Ministra e o Secretário de Estado da Administração interna, ainda têm coragem de se dirigir ao País, sabendo que todos nós há muito perdemos completamente a confiança na sua ação.
Uma última palavra para o Bloco e o PCP, mais o segundo que o primeiro, que nem uma voz levantam para questionar o que quer que seja.
O poder, não há dúvida, corrompe a alma de muitos…
Já imaginaram que esses senhores não apoiavam o governo e estavam na oposição? Quantas manifestações, quantas greves, quantas esperas aos ministros já não teriam acontecido?
Afinal, meus senhores, quem é que está do lado dos mais desfavorecidos? Daqueles que nas nossos aldeias mais recôndidas todos os dias ganham o pão que o diabo amassou.
Termino com uma esperança, depois de mais de cem mortes este ano no nosso Portugal, devido aos fogos, nada poderá voltar a ser como antes.

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