A ser verdade o que li, o Dr. Santana Lopes terá afirmado, num jantar em Esposende, que queria voltar aos tempos em que o líder do PSD era eleito em Congresso.
Não teria o facto relevância não fora o autor das declarações o também prócere da histórica luta pela consagração da eleição directa do presidente do partido, na qual estive envolvido de alma e coração.
Sempre achei que pior do que errar, era persistir no erro (“Errare humanum est, sed perseverare diabolicum est”). Também eu pensei várias vezes no meu acto de contrição, mas a humildade do meu estatuto sempre me reduziu à insignificância com quem vivo um doce concubinato.
Aproveito, agora, a “boleia” ilustre, reconhecendo que o efeito da consagração das “directas” foi o oposto do sonhado, aquando da encarniçada batalha partidária pela sua consagração. Em lugar de fomentar a participação em massa dos militantes, fortaleceram-se “os grupos” de caciques sem rosto e, por isso, não sindicáveis. Em vez de potenciar a cidadania, estimulou-se o pagamento de quotas por rateio de súcias com fidelidades mais ou menos ocultas.
Na mesma passada, caíam por terra alguns dos mais antológicos momentos da vida política portuguesa das últimas décadas: os congressos do PSD. Presenciei muitos, e lembro as grandes intervenções de tribunos que tinham percursos de vida muito além do aparelho partidário e da “politico-dependência”. Eram conclaves em que, embora muito fosse já alinhado, um grande orador ou um erro de monta podiam introduzir incerteza no desfecho (e recordo Viseu, em 2000 ). Quem estivesse atento aprendia algo e vivia emoções inolvidáveis.
Desde então?! Claro que nem tudo é negativo, mas premiou-se ainda mais a força dos “sindicatos de voto” e ganharam palco os indigentes intelectuais que, dada a leveza da caixa craniana, acenam com indisfarçável facilidade a cabeça (o lado bom é que surgiram oportunidades de trabalho para alguns a quem, nos velhos tempos, seria exigido que tivessem vida prévia).
Repito: ainda há muito de bom e essencial no PSD, mas creio que a revisão de algo que não resultou acrescentaria qualidade ao debate interno e, em seguida, à política nacional.
Por esta e outras razões, a teoria política deve ser complementada com a análise inerente à ciência política.