Barcelona foi covardemente atacada por terroristas. Este tipo de atentados é, atualmente, uma das maiores ameaças ao turismo. Os espanhóis em geral, e os catalães em particular, estão apreensivos com o impacto que tal possa ter na economia nacional. Afinal de contas, 11% do PIB é devido ao turismo! Mas ó diabo, não foi em Barcelona que tinham surgido, nos últimos meses, os primeiros movimentos populares “turismofóbicos“?..
Espanha, assim como Portugal em especial, beneficiaram-se nos últimos anos da insegurança associada a eventos terroristas ou maior exposição ao risco em determinadas capitais e países, pelo que sabemos bem o potencial destruidor da suspeição, quanto mais do ataque.
Paradoxalmente (ou talvez não) na sequência do que sucedeu nas Ramblas abriu-se um debate mais profundo sobre as motivações e o alcance da dita “turismofobia”. Portugal, num outro contexto e ainda com maior serenidade, não deveria eximir-se do mesmo.
Algumas questões como ponto de partida: qual o poder de compra e o perfil médio do turista que nos visita? Qual o tipo de oferta que está ser facultada? Que sustentabilidade têm os investimentos e planos de negócios que surgem como cogumelos? Qual a natureza do emprego que está a ser gerado, mais ou menos qualificado e mais ou menos precário? É um fenómeno capilar que se alastra por todo o território ou concentra-se em alguns poucos pontos do país?..
Estas e outras análises não são intuitivas, mas devem ser feitas com base em estudos sérios e aprofundados, de modo a compreender se realmente estamos a ter o retorno devido e com perspetivas de perenidade. Afinal de contas, aquilo que se pode já perceber da discussão em Barcelona – e que está a alastrar pela Espanha – sobre a “turismofobia”, é que um turismo massificado, desqualificado e sem poder de compra gera um tipo de oferta frágil e cujos retornos sociais e económicos são baixos, fora os elevados impactos ambientais não compensados.
Sabemos todos, em Portugal, que o turismo é a nossa “galinha dos ovos de ouro” e que deve ser por isso ser acarinhado, porém também sabemos que nem todos estão a aproveitar da mesma forma este fluxo e este momento. Talvez, por isso, e antes de qualquer infortúnio ou aproveitamentos perversos da tal “turismofobia”, valha a pena a reflexão coletiva.