Não resisto a fazer o papel (certamente cómodo) de comentador do debate entre os candidatos à Câmara de Coimbra, realizado na RTP 3, há dois dias atrás. Os temas foram habituais e as perguntas também. Como vamos atrair investimento industrial? Que soluções tem para a baixa de Coimbra? Qual a melhor política de habitação? E, pouco mais. Porque aquilo não dá para mais.
Antes de ir aos pormenores, vimos um candidato que criticava o papel da câmara , apesar de em momento seguinte , já falar na primeira pessoa do plural porque, afinal, também é vereador eleito por um partido diferente. Continuo a pensar que a melhor forma de agir é optar e evitar ter um pé dentro e a cabeça de fora. Depois, à parte este caso específico, houve intervenções coerentes , da esquerda à direita, acompanhadas de crítica construtiva, mas assertiva, ao que tem sido parte da atuação do órgão municipal. O Presidente em exercício que, nestes debates, é criticado por todos os outros seja qual for o município, tentou fazer aquele número “Velho” que se me criticam, estão a desvalorizar a nossa cidade, o que convenhamos é demasiado épico.
O debate foi leal, tirando uma ou outra pequena passagem, tendo cumprido uma boa síntese do diagnóstico que sempre se deve realizar antes de fazer. Não faltou entusiasmo, mas raramente se saiu do patamar da retórica. Gostaria de ter ouvido exemplos, de como se fará melhor, quando se falou que os serviços do município são burocráticos, quando o Presidente não recebe os empresários ou o que se fará com o IParque daqui para a frente, entre outros assuntos. À parte uma ou outra proposta concreta, meia desgarrada , nunca se saiu do plano generalista e, à esquerda, do plano ideológico.
Bem sei que não é fácil, mas, digo eu, é mais importante, por exemplo, dizer que haverá um gabinete permanente com um assessor , junto do Presidente, para ouvir e encaminhar todos os que querem investir, sejam micro ou médias empresas, do que dizer que o Presidente não fala com as empresas. É mais importante afirmar que haverá um forte investimento na desmaterialização e gestão de todos os processos administrativos do que dizer que a câmara é burocrática.
Recordo ainda o momento em que André Macedo questionou os presentes sobre como atrair investimento. Ao ouvir as várias intervenções, lembrei-me da fábula do gato e dos ratos. Os ratos viviam o drama de estarem a ser dizimados pelo gato, pelo que reuniram para discutir soluções para o enorme problema. Um rato esperto pediu a palavra para afirmar que tudo se resolveria com a colocação de um guizo no pescoço do gato, algo que a assembleia aplaudiu efusivamente porque realmente, assim, ouviriam quando o gato se aproximasse e evitariam a desgraça. Mas, outro rato, talvez mais realista, pediu a palavra e perguntou quem é que iria colocar o guizo no pescoço do felino. Atrair investimento é uma tarefa de muitos, com um papel importante do município e que depende da competição territorial. Esta depende de variáveis geográficas, demográficas, custos operacionais e fiscais, para além da diplomacia económica local. Mas, voltando ao debate, percebemos também que a Câmara tem saúde financeira, investiu pouco nos últimos anos e que, todos concordaram mais ou menos implicitamente, faltam empresas para fixar pessoas e jovens talentos. A população tem vindo a diminuir, a taxa de envelhecimento é de mais de 190 idosos para cada 100 jovens até aos 15 anos, e, claramente, a cidade não tem uma identidade forte. Podemos gostar muito de Coimbra, mas já não chega engrossar a voz. Já não somos os terceiros, estamos bem abaixo em vários rankings, pelo que urge melhorar, pelas novas gerações.
Já vi vários debates e alguns foram bem piores, mas, ainda assim, ficámos longe de outros com mais juventude, mais concretização e menos generalidades. Mas, talvez, esse ainda seja um Velho estilo enraizado de Coimbra. Acredito, que a diferença possa estar na capacidade de fazer, arriscar e liderar sem amarras a um passado Velho ou a ideologias gastas. Não seremos melhores porque dizemos que somos uma cidade maravilhosa, nem piores por afirmar que isto precisa de um rumo novo. Mas, teremos futuro se com tanto talento na cidade, tivermos mais participação cívica. E essa parte, é consigo.