Opinião: Houellebecq

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José Fernando Correia

Um livro de actividades para meninas e outro para rapazes, bem como as declarações de um candidato autárquico sobre a etnia cigana, trouxeram para o debate público as questões do “politicamente correcto”.

Independentemente do que se pense sobre esses episódios, vale a pena ler quem olhe para temas destes com distanciamento. Na literatura contemporânea, essa figura é, sem grande dúvida, Michel Houellebecq (MH), o mais conhecido escritor francês vivo.

Claro que a sua notoriedade beneficiou muito com a coincidência do lançamento do seu último livro (“Submissão”) – que ficciona a “islamização” da sociedade francesa – com os atentados do Charlie Hebdo.

As histórias de MH são, a bem dizer, uma só: um homem de meia idade, com conforto material e craveira intelectual acima da média é, todavia, um solitário enredado num enorme vazio espiritual. Em cada narrativa, ele é confrontado com uma qualquer questão do mundo actual: a clonagem, os modernos sistemas de informação, a islamização, o turismo sexual, etc.

Na obra de MH há, pelo menos, dois aspectos que impressionam. O primeiro é o estilo. Descarnado, despachado, electrizante, quase brutal. O segundo é a abordagem iconoclasta do mundo contemporâneo. Dir-se-ia até que, à excepção da procura do prazer, não há nenhum aspecto do modo de vida ocidental que saia ileso da obra de MH.

Quando o debate público é marcado pelas diferenças entre livros que, afinal, não são assim tão diferentes, ler MH é um murro no estômago.

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