O jantar da noite anterior realizara-se no restaurante Joe’s Beerhouse, famoso na cidade. Dizem que na última semana de outubro aí se realiza uma formidável Oktoberfest, festa tipicamente alemã, com muita cerveja, salsichas e chucrute. No entanto, agora era agosto, as iguarias eram outras e o ambiente seguramente mais calmo.
Nas imediações havia um restaurante português, o Portuga, mas optámos pela singular ementa do Joe’s Beerhouse. Carnes grelhadas de órix, gazela, kudu, crocodilo e zebra. Não é todos os dias que surge uma oportunidade como esta e no final, a conta não chegou aos 15 euros a cada um.
O veículo circulava a uma velocidade talvez demasiado elevada para as características da estrada, uma pista de terra. A paisagem era desértica. Aqui e ali, uma acácia. As suas raízes procuravam a água a quarenta metros de profundidade.
Entre a capital Windhoek e a cidade costeira de Swakopmund distavam 350 quilómetros. Por vezes, cruzávamo-nos com um jipe em sentido contrário e então, durante algum tempo, uma enorme nuvem de poeira ocultava grande parte da estrada. Seguíamos do centro do país para o litoral, de este para oeste.
A paisagem tornava-se definitivamente desértica. Só areia. Curiosamente, a temperatura não aumentou. As temperaturas iam baixando drasticamente e o sol acabou tapado por nuvens compactas e ameaçadoras. Tínhamos chegado ao deserto que ocupa e domina os 1500 quilómetros de costa deste país. A Costa dos Esqueletos. De baleias, de homens e de navios.
Ao longo dos séculos, navio que por estas bandas naufragasse, significava morte certa. Se os náufragos caminhassem para o interior apenas encontrariam dunas de areia. Ainda hoje diversas carcaças de navios permanecem fantasmagoricamente encalhadas nestas praias, com ondas poderosas a impor respeito aos chacais que nas dunas procuram alimento. Águas geladas que fazem as delícias das focas.
O primeiro europeu a desembarcar nesta inóspita costa era português, Diogo Cão, em 1484, a cerca de 120 quilómetros para norte da atual cidade costeira de Swakopmund, onde colocou um padrão de pedra, uma cruz de pedra, para assinalar o pretenso domínio de Portugal, num local ainda hoje denominado, internacionalmente, por Cape Cross.
O segundo europeu a pisar esta costa fria e agreste, também era português. Bartolomeu Dias, em 1487, desembarcou a cerca de 20 km da atual cidade costeira de Lüderitz, onde terá igualmente colocado um padrão de pedra, reclamando estes novos descobrimentos para Portugal. O local exato, hoje é denominado, internacionalmente, de Diaz Point. Réplicas dos dois padrões encontram-se nos locais, assinalando e perpetuando a proeza, 530 anos depois.
Diogo Cão e Bartolomeu Dias, na segunda metade do século XV, encontraram os únicos locais onde era possível desembarcar e sensivelmente nas zonas onde em 2017 existem as duas únicas cidades portuárias deste país, Swakopmund e Lüderitz ( 730 km mais a sul). Apenas duas cidades numa extensão de 1500 quilómetros.
Para o jantar desta noite, em Swakopmund, havia duas opções, dois restaurantes situados junto ao mar. Desta vez, peixe e marisco impunham-se perante as carnes grelhadas consumidas em Windhoek. No final, uma conta de cerca de 20 euros por pessoa. A gastronomia em Portugal é de excelência, mas na Namíbia também não se come nada mal.