Nas vésperas das eleições autárquicas, impõem-se dois ou três apontamentos sobre o fenómeno da abstenção e da dimensão preocupante que ele tem vindo a assumir aqui na Figueira da Foz, em particular – e algo paradoxalmente – no espaço urbano.
A primeira nota que cumpre fazer é que os cadernos eleitorais estão “inflacionados”. A fazer fé no Censos de 2011 e na estrutura da pirâmide etária nacional de 2015, haverá, aqui, qualquer coisa como 2000 a 2500 eleitores registados “a mais”. Se juntarmos a isso algum fenómeno migratório posterior a 2011, o número poderá ainda aumentar. Mas isso, como bem se compreende, só marginalmente explica abstenções que ultrapassam os 50%.
Uma abstenção dessa ordem de grandeza suscita duas reflexões: a primeira é benigna. Consiste em dizer que os cidadãos pressentem que nada de verdadeiramente essencial está em jogo e que, seja qual for o resultado, o regular funcionamento das instituições e a dotação de bens e serviços públicos se manterá.
A segunda leitura é bem mais preocupante. É a que diz que os eleitores se desinteressaram totalmente da vida colectiva e deixaram de acreditar na possibilidade de, através das suas escolhas, melhorar os destinos da comunidade em que vivem. Um cenário que coloca em risco a continuidade da democracia, arrasa com os elementos identitários de qualquer espaço, diminui, em substância, a legitimidade dos eleitos e abre, no futuro, espaço para toda a espécie de populismo e demagogia . No domingo, vote!