Opinião – O mundo avança, mas as desigualdades crescem!

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Gil Patrão

Assistimos a uma continuada convergência de interesses entre sistemas económicos e sociais distintos, acelerada pela difusão no mundo das mais modernas tecnologias de informação e comunicação, que colocam a informação instantaneamente em todo o lado, encurtam distâncias e facilitam as comunicações, mas dificultam a vida dos que não dominam tais tecnologias nem se adaptam às mudanças que fazem avançar um mundo vertiginoso, global e muito complexo.
O mundo atual é guiado por magnatas que deslocalizam centros de produção para países menos desenvolvidos, para beneficiarem de custos do fator trabalho muito inferiores aos dos países em que operavam até então. Mas, à medida que as empresas se relocalizam, por muito baixos que sejam os salários pagos aos trabalhadores, aumentam o nível de vida e poder de compra destes, desenvolvendo estas economias, o que ajuda a criar pequenos negócios que multiplicam postos de trabalho, o que promove um maior bem-estar económico e social, mas faz crescer o custo do fator trabalho. Só que o esbatimento desta vantagem competitiva ocasiona deslocalizações para países ainda menos desenvolvidos, na senda infindável de quem explora o fator trabalho, pondo em causa sistemas económicos emergentes, em sociedades ainda muito pouco desenvolvidas.
Entretanto, nos países mais desenvolvidos vão encerrando lojas e fábricas, colocando no desemprego milhões de trabalhadores, muitos deles qualificados, o que exerce uma pressão imensa sobre sistemas de segurança social financiados por contribuições e impostos que recaem sobre o trabalho e o capital. Acresce que a proliferação mundial de lucros e salários obscenos, a par de salários indignos, gera desigualdades e tensões sociais que originam populismos radicais que defendem o fecho das fronteiras e o regresso dos capitais aos países mais desenvolvidos.
As deslocalizações de empresas e do seu saber fazer para sociedades menos desenvolvidas são benéficas, mas põem em causa sistemas económicos capitalistas e coletivistas. Nuns, porque os que amealham fortunas gigantescas vêem os mercados tradicionalmente ricos em que operam aproximarem-se de novos limiares de pobreza, pela redução do poder de compra de segmentos crescentes da classe média. Noutros, porque a maior riqueza gerada em países economicamente mais débeis originam novas classes médias que resguardam o bem-estar a que passam a ter acesso, enquanto se assiste a uma diferenciação económica e social entre os que continuam a ser assalariados, e os que passam a deter alguns meios de produção, que rapidamente torna explosivos os ambientes económicos e sociais dessas economias emergentes. E em todas, as desigualdades atingem níveis de injustiça social paradoxais, num mundo que é muito mais afim!
Se é o uso massivo e intensivo da internet e das suas inúmeras aplicações, incluindo as redes sociais, que criam novas formas de economia e originam padrões de consumo que revolucionam a economia nas sociedades atuais, são as gerações de consumidores deste milénio – que querem e sabem como cooperar entre si, e que partilham o seu conhecimento sem visarem o lucro – que mantêm a esperança da humanidade de que as mudanças em curso não serão mais gravosas para os mais desfavorecidos de todos, do que para os muito poucos que, como aconteceu até agora, e como bem entenderam, tiraram partido da fragilidade de outros seres humanos.
Este mundo tem sido regulado por quem detém o poder económico e tem acesso privilegiado ao conhecimento tecnológico mais avançado, mas numa sociedade global e que comunica cada vez mais entre si, confia-se que o futuro coletivo será muito mais colaborativo, e menos capitalista.

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