Opinião – Notas soltas: pouca política, muitos brindes e cartazes

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José Augusto Ferreira da Silva

1. Cinco milhões de euros é a verba prevista pelos partidos e outras candidaturas para gastos com “brindes” a distribuir na campanha eleitoral nas próximas eleições autárquicas. É um valor escandaloso e que mostra bem a falta de consideração que quem o gasta tem pelos eleitores. O recurso ao “brinde” em massa, visa claramente retirar da campanha qualquer debate estratégico de ideias, bem como qualquer esclarecimento programático, mas tão só sustentar o passeio eleitoral, a que não faltarão grandes arruadas, carros sonoros, muitos cartazes com o rosto dos candidatos mais ou menos fotogénicos, ou com figuras femininas andando de bicicleta, como se o período destinado à campanha eleitoral fosse similar ao da promoção de um qualquer produto de beleza! E em Coimbra, onde o debate político é absolutamente essencial à sua renovação e afirmação, estes exemplos abundam. A cidade está pejada de outdoors com a foto de dois dos candidatos partidários, em que um oferece “Mais” e outro quer “Valorizar”. Mensagens abstratas e ocas, com a agravante de, no último caso – “Valorizar Coimbra” – ser a expressão da confusão havida durante todo o mandato entre a coisa partidária e a coisa pública, num apoucamento e apropriação ilegítima desta em favor daquela. Com a campanha a continuar assim, é fácil prever que os elevados índices de abstenção verificados nos últimos atos eleitorais voltarão a repetir-se, senão mesmo a ampliar-se.
2. O anúncio da realização próxima de greves pelos trabalhadores dos SMTUC teve o efeito positivo de chamar a atenção da generalidade dos cidadãos para os problemas graves que aí se vivem não só relativamente ao incumprimento dos direitos dos trabalhadores, mas também relativamente ao estado a que chegaram os meios de circulação e manutenção, mas, sobretudo, à rede pública de transportes coletivos. Governados por um Conselho de Administração emanado da Câmara Municipal e partilhado pelo PS e pela CDU/PCP – (dele fazem parte a Vice – Presidente Rosa Reis Marques e os vereadores Jorge Alves e Francisco Queirós) é chocante constatar que não foram satisfeitas as justas e antigas reivindicações dos trabalhadores no que concerne à carreira profissional, à prestação de contas, às folgas, ao trabalho extraordinário e às condições de trabalho. Quando se esperava – e era exigível – que quatro anos de governo municipal por estes dois partidos, fosse mais do que suficiente para o efeito, havendo, como há, disponibilidades financeiras e legislação que não só o permite mas até o impõe!!! Mas a falta de vontade política que a esse propósito se manifesta tem expressão mais ampla na incapacidade demonstrada para resolver os problemas estruturais dos SMTUC no que concerne à reestruturação inadiável da sua rede, por um lado, e à renovação efetiva da sua envelhecida frota, por outro. Embora, neste caso, se tenha de reconhecer que alguma coisa foi feita face ao estado calamitoso em que a tinha deixado a governação municipal do PSD/CDS. Este é um dos assuntos em que o debate eleitoral deve impor a clarificação frutuosa de posições que permita concretizar uma alternativa de transportes públicos coletivos locais e regionais, com destaque para a ligação a Serpins (incluindo o projeto Metro Mondego, que se espera não definitivamente enterrado), mas também às sedes dos diversos municípios da Comunidade Intermunicipal da Região de Coimbra ( CIM – RC), que sirva os cidadãos com qualidade, rapidez e eficiência.
3. A semana que findou trouxe uma notícia que, a concretizar-se, será muito positiva. A aquisição e recuperação da insolvente Coimbra Editora pelo Grupo Almedina. Empresa centenária, com grande historial e prestígio no mundo dos livros, com destaque para os jurídicos, o encerramento da Coimbra Editora foi uma enorme perda para a cidade e mesmo para o país, que viram desaparecer revistas e outras publicações ímpares, bem como um veículo importante para a divulgação de muitos e muitos autores. Oxalá a proposta de aquisição se venha a concretizar e voltemos a poder contar no nosso empobrecido mundo livreiro com a Coimbra Editora, que detém um lugar muito especial na nossa memória coletiva.

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