Coimbra foi, como meio estudantil, sempre lugar de peregrinação de algumas figuras, mais ou menos exóticas, sendo alguns estudantes da Universidade e até professores da Alma Mater, marcando-a todos com traços indeléveis. Eram figuras anedóticas que faziam parte do universo social dos estudantes e os professores. Vinham quais aves de arribação até Coimbra, acompanhando-os até nas férias pois os encontrávamos em época estival na Figueira da Foz. Outras personagens como Manuel das Barbas foram parte do percurso curricular dos estudantes, vendendo-lhe as sebentas que reproduziam o que os professores diziam nas aulas, ganhando alguns alunos pobres, os sebenteiros, o suficiente para prosseguirem os estudos, tomando nota das aulas para redigirem as ditas sebentas, assim assinalava-se na Sertã:
“Faleceu em Coimbra o tipo popular Manuel Marques Ribeiro, O Manuel das Barbas por que era mais conhecido.
Era proprietário de uma litografia em que eram impressas as «Sebentas» para a Universidade, andando o seu nome ligado à antiga serviçal Maria Marrafa, que as distribuía pelos académicos.
Foi uma das individualidades mais parodiadas no centenário da «Sebenta»” ( 1 ).
Quando entrei há quase 50 anos na Universidade do Porto como aluno, havia ainda sebentas por onde estudávamos, mas essas eram já redigidas pelos professores. Começava-se então a fazer recolha de textos de autores consagrados que os professores coligiam para que os seus alunos estudassem por elas. Recomendavam-se então alguns livros e era difícil fazer livros e apontamentos. Acontecia por alguns docentes que não sabiam escrever dispararem logo a torto e a direito contra quem a tal se atrevia.
Um dos meus amigos teve até vida difícil por essa razão.
E escreve bem como vou vendo pelos livros que publica.
Agora os estudantes e professores encontram em diversos sítios da Internet textos base das diversas matérias e as editoras nacionais e internacionais publicam livros de boa qualidade, onde alguns, que marcam o tempo científico, permitem a melhoria contínua da lecionação e a transmissão de conhecimentos em tempo real.
O tempo dos professores é assim marcado por exigências que lhes tornam difícil a vida se quiserem manter uma certa monotonia, mas, por outro lado, lhes facilitam a vida se quiserem manter atualizados os currículos que lecionam. Podem também ter acesso a textos antigos, ainda há pouco inacessíveis, que permitem seguir a evolução científica de alguns temas e fazer investigação histórica sobre as ideias científicas.
Estamos assim perante este nosso admirável mundo novo.
O problema é só a recusa de alguns ou muitos estudantes em querer trabalhar com todos estes instrumentos. E convencer os estudantes a usá-los é difícil.
E como sempre é preciso perseverança. Teimemos por isso e aquilo que é a nossa Esperança acontecerá.
( 1 ) O Povo da Certã, ano 1º, 11 de Abril de 1909, p. 2, coluna 5