Opinião: Esta semana, não escrevo!

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Gonçalo Capitão

O título que escolhi tem a ver com a frase que mais me apeteceu escrever ao Director do Beiras, depois de ler – preferi não ver – incontáveis notícias sobre os incêndios que chagam Portugal, e mormente sobre o de Pedrogão Grande.

Sinceramente, de momento, acho estultas as linhas e vozes que pedem, de imediato, responsabilidades ao Governo e aos proprietários rurais. É tão horrível o que se passa, que julguei que só ia ver coisas assim nos chamados “filmes catástrofe” (popularizados, entre outros, por Charlton Heston) ou noutros países. Com o que fica dito, não precludo, de modo algum, a necessidade de, mais tarde, se apurarem responsabilidades, as quais, suspeito, arrolarão entidades e individualidades de há décadas a esta parte.

Fica a sensação de que havia um número de vidas e prejuízos que, apesar de entendidos como graves, mas também como justificáveis (como se o conceito pudesse existir), permitiam, até hoje, ir adiando a solução daquilo que depende dos humanos. Parece-me que esse tempo está, literal e figuradamente, reduzido a cinzas.

É, aliás, inevitável para quem tenha fé levantar os olhos para o céu e perguntar “porquê?”, por muito que a esquerda e grande parte dos jornalistas que a apoiam insistam em impor a ditadura do ateísmo (relembro a perversidade injusta com que atacaram Calvão da Silva, e as críticas a Marcelo Rebelo de Sousa pela saudação pessoal ao Papa)… Laicidade do Estado não é ateísmo do povo.

Contudo, vem do jornalismo uma primeira nota positiva que consigo descortinar no meio deste inferno de coisas más: as reacções indignadas à reportagem que a TVI (ainda por cima pela mão de uma das melhores profissionais) fez junto do corpo de uma das vítimas, mostram que continuamos a ser um povo equilibrado, rejeitando o sensacionalismo mórbido de outras sociedades, do mesmo modo que temos evitado o extremismo político, até à data.

De novo me assaltam as horríveis imagens e os fúnebres relatos. Que devastação… E crianças?! Devia ser proibido no Céu e na Terra!… Mas aconteceu, e foi aqui.

E extrai o cérebro a segunda reflexão: que relativos e fúteis são tantos dos nossos problemas face a determinadas realidades. Quantos ácidos gástricos, quantas dores de cabeça, quantas palavras feias que não valem nada, quando vemos o que são dificuldades e fatalidades reais…

E não me saem da cabeça as notícias…

Se ainda se lembra do título, respondo eu: é… Esta semana, não devia ter escrito…

 

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