Ontem comemorou-se o dia da liberdade de imprensa.
Bem, comemorar é claramente uma força de expressão pois pouco há para celebrar, nos tempos que correm, quanto á liberdade e, já agora, à qualidade do momento atual vivido pela comunicação social.
São tantas as ameaças à independência e à capacidade de assumir rigor e qualidade ao desempenho que é quase milagre ainda existir verdadeira imprensa livre e democrática.
Senão vejamos:
Da promiscuidade entre o poder político e económico e as linhas editoriais, passando pela situação de precariedade laboral de muitos dos profissionais que exercem diariamente a sua atividade sob uma autêntica espada de Dâmocles, percorremos um labirinto de ameaças à real capacidade dos “media” de exercerem a sua função informativa, adicionando-se aqui a crescente depauperação das redações, reduzidas ao mínimo e com os jornalistas mais capazes a enfrentarem o despedimento ou a reforma antecipada, muitos deles em plena pujança de saberes e capacidades de intervenção.
A tudo isto, adiciona-se uma vertigem que nos consome com a substituição da informação pela desinformação ou pela deformação dos factos, de forma voluntária e dolosa, mercê dessa crescente importância das redes sociais e da sua capacidade para distorcer factos ou criar factos ditos alternativos ou simplesmente inventados.
Juntemos a tudo isto o muito lixo que anda por aí disfarçado de órgão de comunicação social.
Estes fazem da famosa divisa “there are no news like bad news (não há notícia como uma má notícia)” a sua cartilha religiosamente cumprida, transformando-se em cínicos e danosos repositórios de má língua, violência e outros quejandos que conspurcam o teatro noticioso.
Para eles, a desgraça humana é o seu motivo de existência laboral na comunicação informativa, se é que poderemos intitular estes pasquins e canais televisivos dedicados ao lixo noticioso, órgãos de comunicação social.
Mas sejamos completamente honestos.
A má informação e a deturpação informativa não existiriam se não houvesse mercado para este tipo de produto.
Existe e, infelizmente, está a crescer, atentando nas audiências.
Ora, isto revela que boa parte da nossa sociedade continua vorazmente viciada na desgraça alheia e na cegueira vociferante que transforma muitos dos cidadãos comuns em fanáticos pelas confrontações em sítios e redes sociais, versão contemporânea do “voyeurismo” que nos faz abrandar o carro para ver melhor um acidente (já agora, continuamos a fazer isto de forma alargada…).
O mundo vai ficando cada vez mais perigoso e a atual situação da informação em nada ajuda a melhora-lo.
Fica a minha admiração e, julgo, o aplauso coletivo aos muitos profissionais que, dignos dessa chancela, mesmo perante o cenário dantesco com que se defronta o sector, continuam na labuta diária persistente de fazer do Quarto Poder uma forma de informação e de educação clara, cristalina, verdadeira e profunda no ataque às mordaças que tanto querem fazer da sociedade atual um paraíso para os que de nós querem fazer servos submissos, anestesiados pelo pão e pelo circo mediático.
Um mundo sem uma imprensa livre, é um mundo onde a ignorância será cada vez mais rainha e senhora.