Opinião – Metro-Mondego: a qualidade das lideranças e fazer por merecer

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Norberto Pires

 

A sociedade Metro Mondego anda há mais de 20 anos a tentar montar um metro ligeiro de superfície na região de Coimbra. Gastou mais de 150 milhões de euros de forma irresponsável, fez obras que estão abandonadas, destruiu o serviço de transporte que existia, os sucessivos governos do PS, PSD e CDS fizeram promessas que nunca foram cumpridas, as populações foram defraudadas, etc., e hoje não há metro.
O Governo de José Sócrates (do PS) começou as obras em 2009, destruindo o que existia, para logo a seguir as mandar suspender, defraudando assim as populações e os interesses da região de Coimbra. Pelo meio, acusações de má-gestão e gastos ilegais, administração danosa e participação económica em negócio. Há registos, disse o tribunal de contas, de que os cartões de crédito da empresa pagaram despesas pessoais, mas também de que os administradores da empresa teriam duplicado estudos e custos (ver relatório nº 26/2011-2S do Tribunal de Contas e notícia do Público de 6 de junho de 2015 ).
Nos anos seguintes, incluindo em Governos do PSD e do CDS, várias promessas foram feitas acenando com soluções fantásticas que seriam realizadas dali a poucos meses. Por exemplo, em dezembro de 2014 a Presidente da CCDRC (Ana Abrunhosa) afirmava que haveria uma solução para o Metro-Mondego nos dois meses seguintes, acrescentando, de forma algo desconcertante que “nada estava decidido sobre a solução tecnológica” e que ainda “estava tudo por fazer, pois Bruxelas só sabia do projeto Metro-Mondego pelos jornais, nunca lhe tinham sido apresentados detalhes técnicos, nem estudos”.
Apesar de esta afirmação não faz o menor sentido, pois em 2011 o então presidente da CCDRC Alfredo Marques insurgia-se contra o facto de ter visto desaparecer uma verba de 52 milhões de euros do Programa Operacional Regional do Centro para programas nacionais, serve para ilustrar a enorme confusão e ligeireza que sempre caracterizou este projeto. Na mesma altura, em dezembro de 2014, em Miranda do Corvo, o então primeiro-ministro Pedro Passos Coelho anunciou que mantinha o compromisso de resolver o problema do Ramal da Lousã, acrescentando que a CCDRC estava a preparar o processo de candidatura no âmbito do Programa Operacional Regional e que uma das soluções poderia ser um autocarro elétrico.
Passaram dois anos e meio e a solução que ia demorar 2 meses também não existe.
Ainda foi possível assistir, em 2015, ao inacreditável anúncio feito pelo então Ministro do Desenvolvimento Regional do Governo PSD/CDS, Miguel Poiares Maduro, de que tinha sido encontrada uma solução. A fantástica descoberta deste ministro, algo que ele apelidava de solução “metropolitana rodoviária” (lol), não era bem, nas suas palavras, “um normal autocarro elétrico”, mas sim, “uma coisa diferente, as pessoas julgam que é um autocarro normal e não é. Do ponto de vista de funcionamento e de acessibilidade para as pessoas não é diferente do metro”. Adiantava ainda que a sua solução aproveitava o investimento já feito. Enfim, foi em 2015 e, como tudo o que Poiares Maduro fez no Governo, foi mais um inconseguimento.
Se isto não mostra bem a qualidade das lideranças locais, regionais e nacionais, bem como a sua incapacidade de fazer valer junto do poder central os seus pontos de vista, defendendo as populações, não sei o que mostrará.
Por incrível que possa parecer, em Birmingham – que não fica num planeta distante, mas aqui ao lado no Reino Unido -, foram instalados metros ligeiros de superfície em 2013. O fabricante escolhido foi a CAF de Saragoça, Espanha. Quatro anos depois, já em 2017, o serviço de metro encomendou à CAF que instalasse baterias elétricas para permitir que o metro pudesse operar sem as catenárias de alimentação, permitindo assim a adaptação a locais mais exigentes em termos arquitetónicos, etc. A inovação tecnológica vai assim permitindo que soluções entretanto realizadas sejam atualizadas e melhoradas.
Por cá, na cidade do conhecimento, com a crónica incapacidade de pensar a região e desenvolver soluções que sirvam as populações, com a incapacidade de decidir e influenciar o poder central, continuamos a esperar que algo com mais de 20 anos, que começou a ser construído há 8 anos e foi alvo de vários estudos de todo o tipo, seja ainda construído. No entanto, os estudos continuam e ninguém faz a menor ideia do que quer exatamente, para que serve o que pretende construir, como vai ser financiado e mantido, mas, essencialmente, em que estratégia de desenvolvimento é este projeto essencial. Com tudo isto gastam-se centenas de milhões de euros, as populações são defraudadas e uma região permanece adiada.
Na verdade, é a qualidade das lideranças que está em causa. De todas as lideranças. Dos que destruíram o que existia. Dos que prometeram e nada fizeram. Dos que foram incapazes de realizar soluções que se adaptem às necessidades e às possibilidades de financiamento. E dos que prometem aquilo que sabem que não podem fazer… todos vendem enganos e ilusões sem nenhum pudor. A região de Coimbra não se atrasou, não perdeu influência e não se degradou por acaso, mas sim porque não tem feito por merecer outra sina. E não merece porque há muitas pessoas a esforçar-se para que isso continue a ser assim.

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