Opinião – Donos disto tudo

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Teotónio Cavaco

Em abril de 1974, então com 7 anos, era demasiado novo para me aperceber do total alcance das mudanças radicais que essa madrugada trouxe, mas fui percebendo, nos meses seguintes, que o tempo que vivíamos trazia luta, mudança, incerteza, mas, sobretudo, Liberdade.

Somos convocados todos os anos, formal ou informalmente, para a comemoração de um processo histórico sobre o qual não há unanimidade de denominação: golpe de Estado? Revolução? Ação revolucionária? Tudo isto e talvez muito mais, dado o impacte que estes dias tiveram no nosso país, por essa Europa fora, e como potenciou alterações na situação política da África Austral, influenciando os últimos anos da Guerra Fria.

A principal conquista de abril foi a institucionalização do Estado de Direito e Democrático – assim, um país globalmente pobre, muito pouco desenvolvido face à Europa Central e do Norte, amordaçado pela censura e sem conseguir resolver a questão colonial, ousou acreditar que era possível Democratizar, Descolonizar e Desenvolver.

O espanto com que assisto, então, às manifestações de puro ódio ideológico, e até, não raras vezes, imbuídas e incitadoras de violência, provenientes precisamente dos que se permitem assumir como únicos representantes dos “valores de abril”, invariavelmente dirigidas, não para os totalitarismos, mas para o PSD ou para o CDS, obriga-me a repudiar assunções ilícitas de paternidade, utilidade/finalidade e legado.

Foi o Povo quem fez o 25 de abril, para que se resolvessem os seus problemas, e é dele a sua herança – e o Povo não tem donos!

 

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