Se alguém chegar ao pé de si com um discurso ou ação que visa manipular as paixões e os sentimentos do eleitorado para a conquista fácil de poder político, é bastante provável que o acuse, liminarmente, de estar a utilizar demagogia – e está certo, de acordo, por exemplo, com o Dicionário Priberam da Língua Portuguesa.
De facto, esta preponderância do que o povo gosta/quer (não necessariamente do que precisa) na forma do governo é, afinal, um abuso da democracia, já que, como dominação tirânica das fações populares, não deixando de ser uma velha arte, coloca em perigo o próprio sistema democrático, na medida em que o benefício não é para quem o merece, o povo, mas para quem dele se serve, o demagogo.
Por isso, há quase 2500 anos, Platão considerou que a democracia não era um bom sistema de governo, e Aristóteles, um pouco depois, reconhecendo-a como forma de governo válida, lhe apontava certos perigos.
Por amor ao poder, o demagogo privilegia a tática e a manipulação, apelando às emoções, ganhando assim o apoio do povo – a popularidade torna-se, portanto, o alfa e o ómega, o desígnio do demagogo e da sua entourage.
Nesta demanda incessante de convencer a sociedade de que certas ações são benéficas, mesmo quando as suas previsíveis consequências apontem justamente o contrário, o demagogo prefere, por vezes, deixar para as calendas gregas, não fazer ondas – tinha prometido voltar ao tema da erosão costeira…
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