A minha mulher é arquiteta. Eu sou engenheiro. Já fizemos alguns projetos juntos. Cada um assumiu competências diferentes, como é natural. Apesar de pontualmente existirem pontos de desacordo, a arquitetura tem tendência a ser mais poética. A engenharia baliza os limites do “sonho arquitetónico”. Pelo contrário, onde a engenharia é mais bruta e insensível (a estética não faz parte da nossa formação académica, infelizmente), a boa arquitetura surge com soluções harmoniosas e adequadas à escala humana.
É chocante verificar que alguns “engenheiros”, e as respetivas ordens profissionais, desejem voltar ao passado. Isto é, há um movimento organizado, e com o respaldo do grupo parlamentar do PSD, para que os engenheiros possam assinar projetos de arquitetura. Um disparate absoluto, por todas e mais alguma razão. Bastará olhar os “monstros” da nossa cidade, construídos maioritariamente com a assinatura de engenheiros e desenhadores. Queremos voltar ao tempo em que os “desenhadores” faziam “urbanismo”?
Surge ainda como relevante o facto de Portugal ter excelentes escolas superiores de arquitetura, formando alguns dos melhores arquitetos do mundo. Porquê desprezar este manancial de prestígio e crédito? Mesmo na nossa cidade, “moderna e afluente”, continuamos a desprezar o saber dos arquitetos. Há tantas obras (passeios, praças e pracetas, espaços de lazer, etc.) “brutas e disfuncionais” que custa a acreditar que o “arquiteto” da câmara tenha uma palavra a dizer.