Opinião: À Mesa com Portugal

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Olga Cavaleiro

Tal como a mãe e o pai dá um abraço a um filho do qual se sente saudades para todo o sempre, também a gastronomia nos abraça, nos envolve, nos acolhe nas suas cores, nos seus cheiros, nas suas texturas. É o aconchego na doença que se sorve em pequenas quantidades mas que nos acalma a dor física, é a garfada farta na festa, é o brinde feliz que acompanha as vivências que fazem o álbum da nossa vida, é a refeição forte que retempera as forças gastas no trabalho, é o jejum que nos purifica a alma, é a oferta que se põe no altar sagrado e salda a dívida com quem nos dá a graça do alimento, é a fome desnecessária que não alimenta o mundo, é o fruto saído da terra, é o produto fruto das mãos sábias que carregam o saber-fazer.
Tal mãe ou tal pai que acompanha para sempre a vida do filho, a gastronomia acompanha-nos em todos os momentos da nossa vida. Procuramo-la em nome da necessidade física, mas no final o sentido da procura altera-se, pois é ela meio e fim da festa, do trabalho, da devoção. É ela que se encontra quando festejamos a festa religiosa, familiar ou social. Como garante da reciprocidade entre os homens, entre as famílias, entre os grupos, a refeição sela o momento, dá-lhe conteúdo para um futuro em que a memória ajuda a formar a identidade. Por isso, as nossas festas sabem sempre a um qualquer alimento que, não só fez as delícias do nosso palato, mas também criou raízes na nossa história pessoal.
Por esta transversalidade, quase ubiquidade, deve a gastronomia ser lembrada pelo que representa na nossa vida, na nossa economia, na nossa cultura, na nossa história. Importa sentir a sua importância, não só pelo que representa na nossa identidade cultural e na dinamização económica, mas também pela necessidade de não desperdício alimentar. Sentir que a alimentação transformada em arte culinária e gastronomia deve também chegar às franjas menos beneficiadas da nossa sociedade deve ser um imperativo para todos.
Por tudo isto, foi deveras importante a instituição do Dia Nacional da Gastronomia, conquista da Federação das Confrarias, em 2015, junto da Assembleia da República. Por tudo isto, releva a segunda edição do Dia da Gastronomia que vai acontecer no dia 28 de Maio, no Aeroporto de Lisboa. Nesta data iremos celebrar a gastronomia, mas sobretudo, iremos sublinhar a importância da gastronomia na dinamização de um Portugal mais desenvolvido e mais convicto de si próprio que se mostra aos outros com a diversidade e qualidade que o caracteriza.
No Aeroporto de Lisboa, lugar de partidas e chegadas, esperemos que Portugal se abrace à mesa, redescubra a sua identidade em cada receita, em cada prato que nos satisfaz pelas memórias que nos traz, pelo que nos mata as saudades. Que em cada mesa com sabor português aconteça Portugal, para que assim os sabores não se percam e mostremos ao mundo o valor da nossa gastronomia.

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