Opinião – A Académica entrou num ponto sem retorno?

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José Belo

A nossa Académica chegou a um ponto crítico e nele não há inocentes. Todos, uns mais outros menos, somos culpados de termos deixado que a levassem para um lugar, que não é o seu.

Uns falam de “Roma” e dos seus traidores; outros do passado recente que os atormenta com os cifrões que se reclamam; e ainda há aqueles quem verberam o voluntarismo que possa ter existido em alguns, que sempre exibiram distanciamento em relação a estas coisas do “chuto na bola” e que mesmo assim quiseram dar o passo em frente, talvez inebriados com o facto de o futebol colocar as pessoas na linha da frente da notoriedade.

Por tudo isto, não me atrevo a chamar “coveiros” aos ilustres académicos dos diversos órgãos sociais, alguns deles com muitas décadas de militância e devoção.

Seguramente, que ninguém deve estar mais desencantado do que eles, embora isso não os deva impedir de fazerem uma reflexão acerca do que protagonizaram, não lhes sendo difícil constatar e sentir que falhou o plano e a estratégia que desenharam para uma Académica na 2ª Divisão.

Tudo saiu mal: a gestão financeira e desportiva, a mobilização dos adeptos e a liderança sem o rasgo exigido pela circunstância e pela ambição legítima de uma Instituição, que já foi referência no panorama sócio-desportivo nacional. Tudo se transformou rapidamente num fiasco e muitos dos apoios que se propalavam fugiram a sete pés, pela falta de clarividência e de contagiante ambição, disseram-me.

Mas vamos dar toda a ênfase aos adeptos, que não ganham nada com o jogo e que até pagam para o ver, à procura de 90 minutos que lhes encham a alma com a beleza do jogo e com alguns “resultados” que aqueçam o seu orgulho de pertença, que já foi intenso.

Pensar neles leva-nos a interpelar como foi possível construir uma equipa que tão pouco fez e que tão pouco produziu.

Os resultados dizem muito em termos de uma desequilibrada e inconcebível produção ofensiva e defensiva: decorridas 39 jornadas desta 2.ª Liga, temos o segundo pior ataque logo a seguir ao Vizela, enquanto a nossa defesa sofreu, só e só, 33 golos o que faz dela a menos batida do campeonato.

Os nossos sofridos sócios colocam muitas interrogações sobre o antes e o agora, algumas das quais relacionadas com o desempenho desportivo, que eles percepcionam, embora saibam que, para além disso, há, noutro plano institucional, questões muito importantes a equacionar, com urgência, para evitar que se entre numa de “degrau em degrau …”

Falando do Jogo no relvado e da equipa que transporta esse mítico emblema, perguntam alguns deles:

Alguém se lembrou como seria importante ter na equipa algum jogador que, por si só, a este nível, pudesse tirar o sono ao treinador da equipa adversária; que soubesse fugir à vigilância dos adversários, ensaiar remates ou então inventar espaços capazes de surpreender gregos e troianos, rasgando os caminhos do golo?

Entrou, ou não, nas contas, quando da preparação da equipa, a existência de um jogador, tipo “tanque”, no meio campo, que despeje “fogo”, para a frente, para trás e para os lados, capaz de roubar bolas, de fazer faltas inteligentes e, com alguma lucidez, dar a bola jogável?

E a aquisição de um matador, mesmo trintão, que soubesse, de vez em quando, meter a bola no fundo da baliza?

Alguém se importou que, na sua expressão atacante, raramente víssemos, nos relvados, onde domingo após domingo íamos jogando, desenhos tácticos estimulantes, com coreografias bem concretizadas pela força e estética de jogadores entusiasmantes? (Marinho não faz parte desta análise por tudo o que me deu com a vitória no Jamor).

Alguém ligou à ausência de uma “estrutura” forte, a movimentar-se bem no chamado”sistema”, de vozes e de gestos contagiantes, fora das quatro linhas, capazes de “influenciar” cada passe, cada desarme, cada desmarcação, cada remate, cada apoio, cada cobertura, cada aceleração?

Os sócios tiveram alguma vez a noção clara de que o jogo se decidiu na energia e criatividade do chamado ” banco”, fruto de alterações argutas do desenho táctico, que veio do balneário? Alguém sentiu que tínhamos uma equipa sofrível, mas que estava globalmente “espremida” até ao tutano?

O sócio atento teve muitas oportunidades de se deleitar com uma equipa inteligente, em todas as fases do jogo, que era um regalo para a vista em termos de dinâmica e posicionamento, que exibia uma ideia e um método coerente de jogo, havendo uma feliz assunção de um esquema que modificava certas posições e dinâmicas em função do adversário?

Será que o treinador (e todos os que com ele trabalham), que no plano defensivo soube estruturar muito bem a equipa, fazendo uma excelente omelete com os ovos que lhe deram, foi mais vítima do que culpado, porque casa onde não há pão todos acham que podem ralhar?

As respostas serão ou não favoráveis a quem esteve no campo, no gabinete ou no chamado ” banco”, mas, seja qual for a tendência das mesmas, o que é um facto é que todos eles, juntos, na devida proporção, trouxeram a Académica para uma verdadeira encruzilhada.

Importa chamar as coisas pelos nomes e ser capaz de despertar as consciências desta Instituição, a quem um dia chamei “Gigante de Afectos, mas Anã na sua mobilização”. Vamos pôr o despertador a tocar e num grande “Fórum/Congresso” punhamos o pragmatismo e a ideologia académicas face a face, para tentar dar a volta a tudo isto a começar pelas divisões, que são inegáveis.

Há sempre um ponto sem retorno.

Por isso, o tempo urge!

 

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