O ciclo político em que vivemos há quase ano e meio foi apelidado pelo primeiro-ministro, no discurso de posse, como um tempo novo, com o que quis dizer que, após quase cinco anos de austeridade, mas que levaram à recuperação da economia pátria e à saída da “troika” do país, o seu governo socialista, apoiado por bloquistas e comunistas, sem dramas nem desvios, encetaria políticas que reverteriam medidas penalizadoras do bem-estar dos cidadãos, o que levou o povo a acreditar no milagre político da geringonça, e a sorrir com alegorias como a da vaca-voadora…
No entender deste governo, tudo tem corrido desde então às mil-maravilhas, como comprovam a acalmia social pela quase ausência de greves e contestações sindicais, a diminuição do desemprego e o crescimento do emprego, a reposição de salários e de carreiras na função pública, e o défice de 2,1% e o crescimento do PIB em 1,8% atingidos no último ano. O povo anda feliz e descontraído, o governo desdenha da delicada oposição que tem, e nem o nosso comentador maior, que agora ouvimos diariamente, desdiz o que o primeiro-ministro tanto diz!
Em suma, quase ninguém questiona verdades subjacentes aos progressos anunciados nem analisa avisos provindos da União Europeia e de instâncias internacionais, e são praticamente inexistentes os comentários sobre o que levará todas, menos uma, das agências de “rating” a manterem a notação do país em níveis de “lixo” que penalizam juros e investimento estrangeiro, assim como o povo desdenha de quem alerta para realidades, como por exemplo as relativas à taxa de juro paga pelo país, que vem subindo e já vai no dobro da taxa do crescimento obtido.
Mas notícias relativas a três bancos deviam fazer acordar quem anda adormecido por canções de embalar de quem encanta com estórias de encantamento! Se um banco pequeno, e cujo único acionista é uma associação mutualista, ainda não tem o futuro questionado, embora muitos dos mutualistas estejam a levantar parcas poupanças, já o maior banco nacional, que é público, pagará juros perpétuos de 10,75% ao ano às instituições que subscreveram 500 milhões de euros duma recapitalização que no mínimo será dez vezes superior, se não ocorrerem novas surpresas.
E mal refeitos de tudo isto, logo o país viu ser vendido (melhor dito, cedido a preço negativo) o novo banco, dito banco bom, saído do descalabro do nosso anterior maior banco privado. O país fica com um quarto do banco sem nele mandar e será responsável por 4 mil milhões de euros do capital necessário para o mesmo não soçobrar, mas o governo diz que as responsabilidades não são do povo mas do Fundo de Resolução bancário, mas não nos diz como será se o novo dono, o tal fundo abutre americano que certa Catarina critica mas admite, gerir mal o negócio. Nem o governo revelou as condições dadas a tais fundos para suportarem negócio tão ruim para o país.
Precisamos de verdades novas neste tempo novo do governo de Costa, relativas a um Novo Banco que vai agravar o nosso défice público. E são precisas verdades novas do governo sobre o tempo novo da CGD, banco público que compromete tanto o défice como o futuro do país.
Também precisamos que os ministros das finanças e da segurança social, que superintendem, respetivamente, no pequeno Montepio Geral que pode ajudar a comprometer o défice público, e na sua Associação Mutualista (antigo exemplo de honradez e solidez) que pode provocar perdas profundas nas poupanças nela arrecadadas, falem verdade. Verdade que terá de haver para dar confiança ao povo na banca pública e na (pouco) privada que temos. É que o país só melhorará quando houver mais verdades, e menos mentiras e omissões de quem desgoverna a nossa nação!