Opinião: Os dias de Loureiro

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Gonçalo Capitão

Antes da prosa propriamente dita, devo dizer que tenho de Manuel Dias Loureiro a ideia de um político de peso e com quem pude aprender algumas das coisas que sei nessa matéria, fosse quando estive em lado oposto, fosse quando, mais tarde, essa questão não era já assunto.

Para reavivar memórias alheias, relembro ainda que muitos iam em romaria pedir o seu apoio para tudo e mais alguma coisa (procissões em que não participei). Se calhar muitos desses revelaram memória selectiva durante todos estes anos em o ex-ministro foi considerado suspeito…

Sobre esse ponto – os negócios da esfera do Banco Português de Negócios – não sei, nem quero saber o que quer que seja. Contudo, existe algo neste processo ora arquivado pelo Ministério Público que me deixa inquieto no que às nossas mais elementares garantias diz respeito: qualquer pessoa com projecção pode ver o seu nome manchado pela suspeita, durante anos, para que tudo dê em nada, mas não antes sem que o digno magistrado titular se ocupe a dizer que lhe fica a ideia de que os arguidos que não conseguiu acusar deviam ser condenados.

Dito de outra forma, o Estado não pôde comprovar que Dias Loureiro e Oliveira e Costa cometeram crimes, mas não nos iludamos: seria quase impossível ao primeiro voltar a ter actividade cívica, se assim o desejasse.

Contudo, esta inabilitação política quase permanente não fecha o capítulo, a meu ver; subsiste uma pequena dúvida sobre o que acontecerá à equipa do Ministério Público que, incapaz de manter o sigilo, arrastou pela lama o nome dos envolvidos no processo. Numa empresa privada seriam rotulados de incompetentes, culpados pelos prejuízos, e despromovidos ou mesmo despedidos.

Entendo que as magistraturas têm de ser independentes a bem da democracia e do estado de direito, mas vivo mal com a opacidade inerente às profissões que se gerem a si mesmas (sobre outra delas falaremos daqui a algum tempo).

Sou dos que acredita que temos uma justiça de nível aceitável e forças de segurança de muito boa qualidade, mas o problema de se conhecer o preço dos seus erros é posto por uma das razões pelas quais se aplicam penas nos tribunais: dar às pessoas a confiança de que as acções censuradas pela sociedade não ficam impunes. Ora, estou em crer que manchar a vida de cidadãos sem fazer prova é um caso claro daquele tipo de erros, mormente quando se permitiu que a opinião pública se banqueteasse com centenas de notícias de sentido único.

Devo algo a Dias Loureiro ou sou seu credor? Não. Acredito ou deixo de acreditar que está inocente? Não sei, mas gostava de saber. Infelizmente, os profissionais judiciais cujo salário pagamos estão na mesma; gostariam de saber…

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