Há quase duzentos anos discutia-se a construção de uma nova sociedade, em que a tortura e com ela a fome e a miséria fossem erradicadas através de leis, que se iam debatendo nas Cortes Gerais e Extraordinárias da Corte Portuguesa. Também queriam destruir as casas onde a Inquisição tinha funcionado.
Mas, no decurso da discussão das formas de acabar definitivamente com a inquisição, os Constituintes depararam-se com o problema técnico que era desmantelar fisicamente com os edifícios, onde durante 300 anos se tinham cometido barbaridades inarráveis.
O objetivo era impedir que esses edifícios voltassem a servir estes tristes e desumanos desígnios. Assim concluíam “Do documento n.°1.°: se vê que os cárceres da extinta inquisição desta cidade podem ser completamente demolidos sem que o palácio adjunto sofra dano algum. Do documento n.°2 se vê que parte dos referidos cárceres em Évora pode ser destruída sem prejuízo dos edifícios a que pertencem, o que não acontece a respeito dos cárceres restantes, cuja demolição não é possível fazer-se sem que aqueles edifícios sofram detrimento notável, ou sem que para os conservar se facão grandes despesas. Neste ultimo caso se acham os cárceres de Coimbra, como se declara no documento n.º 3” ( 1 )
Seguiram-se depois cerca de trinta anos de Guerra Civil, algum tempo de acalmia e uma agonia de uma monarquia incapaz de construir uma sociedade justa, que fosse capaz de construir uma democracia adequada ao desenvolvimento do País.
Incapaz de cortar com os vícios da Monarquia, sem qualquer plano de desenvolvimento e privada de uma política capaz de criar consensos, a República soçobrou perante a Moda dos Fascismos como solução.
Vivemos por isso um novo tempo inquisitorial onde a PIDE e a Legião eram as forças, que amedrontavam o Povo Português até que este se libertou da Censura e da Repressão Policial.
Infelizmente, os medos continuam a povoar as cabeças e sente-se que este medo permanece ao longo dos anos, permitindo que, por todo o lado, alguns homens detentores de poderes não identificados exerçam um poder ilegítimo que prejudica o funcionamento da nossa Democracia. Também alguns políticos da área da Governação usam o poder como se fossem animais ferozes, gabando-se disso. Outros, agarram-se ao poder, sem que que queiram analisar os problemas, deixando-os por resolver, criando uma continuada série de dificuldades à manutenção equilibrada do sistema financeiro.
Outros usaram o poder para fazer o desperdício sistemático de recursos e o país assiste agora à telenovela do seu quotidiano em que não há certeza se a nossa História acaba bem ou mal. E tudo isto gera medos. O que nos vale é que já não existe qualquer forma de Inquisição. Só medos não identificados ou por identificar.
( 1 ) Diário das Cortes Gerais e Extraordinárias da Corte Portuguesa, 2 de Abril de 1822, p. 701, coluna 2.