Um dos lapsos da República foi ter substituído as antigas aristocracias por “novas aristocracias, que fez emergir novas configurações sociais e de Poder (o que é normal).
Se, por um lado, entre muitos outros aspetos, a possibilidade de ascensão social que daqui resultou foi positiva, na medida em que a proveniência social deixou de determinar o futuro e a condição de vida dos indivíduos, por outro lado, promoveu a afirmação de, pelo menos (superficial mas objetivamente), dois grupos sociais de Poder com características distintas: o designado “novo-riquismo”, que se caracteriza por uma discrepância acentuada entre o poder de compra e o poder cultural e intelectual; e um outro grupo que, independentemente do poder de compra de cada um dos indivíduos que o integram, se considera cultural e intelectualmente legitimado na definição do que é “bom” ou “mau”, do que “é culto” e “do que é pindérico”.
Ambos os grupos auto representam-se como detentores de legitimidade e autoridade para a instituição de critérios definidores da dinâmica e dos princípios sociais. É esta estruturação de valores que faz com que o lucro se imponha e a mediatização se processe, sem critérios de qualidade. Contudo, a capacidade crítica e de opção é (deve ser) de cada um dos cidadãos.
A discussão em torno do Aeroporto Cristiano Ronaldo veio comprovar a existência dos grupos sociais que referi anteriormente: de um lado, os que consideram justo porque “o futebol é o desporto rei” e “Cristiano Ronaldo é o português mais conhecido do mundo” (“o futebol é que é bom, o resto é uma seca”) e do outro, os que consideram ser exagerado por ser um “mero jogador de futebol” (“coisa menor”), “seria mais adequado o nome de um político” ou “ de alguém das artes, das ciências, da cultura”…
De acordo com os princípios da República o reconhecimento do mérito não está subjugado a nenhuma hierarquização social, nem tão pouco de funções desempenhadas, individuais ou coletivas. Mais do que a função desempenhada deverá relevar-se a ação e a superação nessa função.
É o caso de Cristiano Ronaldo, que não só desempenha a sua função com elevado mérito como superou o expectável e o exigido: é simplesmente o melhor do mundo nessa função. Não conheço outro cidadão da Região Autónoma da Madeira que nas suas funções tenha alcançado os mesmos níveis de desempenho de Cristiano Ronaldo. Os cidadãos que desempenharam funções políticas não fizeram mais que a sua obrigação.
Só alguns políticos conseguiram ou conseguirão superar aquilo que lhes era/será minimamente exigido e, mesmo assim, é sempre discutivel, uma vez que a ideologia não define o “correto” nem o “incorreto”, o que torna muito difícil a unanimidade da maioria da opinião pública.
Cristiano Ronaldo é português, nascido na Madeira, é considerado o melhor jogador do mundo pelo que me parece ser perfeitamente adequado a atribuição do seu nome ao aeorporto da Madeira. Digo eu, que nem sou adepto fervoroso de futebol. Questiono, sim, se não será ainda prematuro. O futuro dirá.