De vez em quando lembram-nos de que os nossos impostos – a mais de Saúde, Educação e Segurança Social – financiam siglas como CGD e TAP.
Interminável ficaria a prosa se procurássemos um momento de arqueologia e nos perguntássemos o que se passou com outras denominações como a PT, ou se tentássemos perceber por que razão derretemos rios de dinheiro em instituições privadas como BPN, BES e outros bancos. Dir-me-ão que se o não fizéssemos as consequências seriam piores… Todavia, ao mesmo passo que esta explicação hipotética apazigua o espírito, também contém em si a ideia de que algumas pessoas erraram clamorosamente, desperdiçando dinheiro que poderia ter financiado escolas e hospitais. Dando de barato que a resposta pudesse ter acerto, restar-me-ia perguntar por que é que não há uma data de tipos presos, mas a idade já não permite tamanha dose de ingenuidade…
É por isso que me limito às perguntas sobre as quais ainda tenho vaga esperança de que alguém me preste esclarecimentos com sentido. Começo pela TAP que, ao mesmo tempo que recebe para presidente um dos mais brilhantes economistas da nova safra (Miguel Frasquilho), continua a deixar-me dúvidas sobre a utilidade de manter uma participação pública na mesma, como fez questão o Governo actual.
Devo dizer que até me pareceu simpática a ideia (não tenho a inspiração liberal de Passos Coelho), mas apenas se a manutenção do nosso esforço colectivo tiver como correlato um efectivo serviço público. Contudo, a abolição da linha directa para a África do Sul (há anos) e os preços de confisco praticados na Venezuela (hoje) para uma Comunidade já castigada por uma realidade só imaginável por quem lá vive – estes factos, dizia – fazem-me pensar que a TAP tem de ou quer gerir-se como outra empresa qualquer, baseando-se na pura eficiência económica. A ser assim, razão a Passos Coelho…
A Caixa Geral de Depósitos levanta, mais recentemente, perguntas do mesmo jaez. De que serve chamar público a um banco que se propõe despedir larga fatia dos seus empregados e fechar balcões em terras onde a sua presença é essencial para o quotidiano de uma população envelhecida e já castigada por várias restrições, nos últimos anos? Já não bastava terem furado o nosso bolso?! É mesmo necessário levar também o mealheiro?! Obrigar-me-ão aqui, outra vez, a dar razão a posteriori ao líder do PSD?!
Figuras de estilo à parte, o que começo a entender é que nos pedem que mantenhamos públicas instituições que querem gerir como se fossem privadas, o que me parece de um surrealismo de mau gosto. Sou a favor de um serviço público em áreas estratégicas, mas não de dinheiro público para alimentar glórias vãs ou ficção pouco científica.