Opinião: Quanto mais lhe batem, mais Pedro é grande

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Joaquim Amândio Santos

Era menino quando despertei para a política, arrebatado pela grandeza de Francisco Sá Carneiro.

Já adulto, após a sua morte, fui ganhando crescente admiração por um dos seus grandes delfins, Pedro Santana Lopes.

Congresso após congresso, intervenção após intervenção, o seu enorme talento político, entusiasmou sempre todos quantos o ouviam defendendo a social-democracia como pilar de uma democracia mais justa.

Os seus talentos cedo fizeram soar o alarme entre as cliques políticas mais dadas aos arranjos e negócios de bastidores, utiizados por quem se devota à sanha do poder pelo poder, servindo-se dos ideais e nunca servindo com ideal.

Ao longo da sua carreira, Pedro Santana Lopes enfrentou a arrogância dos poderosos que, com o beneplácito de muita imprensa subserviente, foram tentando passar uma imagem de “ovelha negra”, irresponsável, noctívago e incapaz de levar projetos a bom porto. A esmagadora maioria deles possuem na carteira o cartão laranja.

Nada mais errado. Nada mais vil.

Da Figueira da Foz a Lisboa, do Governo à Santa Casa da Misericórdia, Pedro Santana Lopes foi sucessivamente cumprindo mandatos com êxitos políticos e de gestão onde, pasme-se, ainda consegue incluir uma impressionante elegância de carácter na forma como encara as derrotas.

Exemplo disso é o trato exemplar com que sempre nutriu a sua relação com Jorge Sampaio, desde o momento em que foi demitido até ao presente.

Atentemos.

A 30 de Novembro de 2004, Jorge Sampaio, Presidente da República, anunciou a sua intenção de dissolver a Assembleia da República. Reza a história que ter-se-á cansado da instabilidade e de sucessivos escândalos. Terá também pesado o distanciamento face ao Governo de economistas e empresários de referência.

Ou seja, o Presidente Sampaio demitiu um governo e dissolveu um parlamento, com uma maioria sólida vigente, porque os interesses instalados na finança e na política assim o queriam.

Se não tivesse sido trágico o futuro que se seguiu, dava para rir. Mas não dá.

Com a conivência de largos sectores do PSD e o esfregar de mãos do PS, Sampaio estendeu um tapete vermelho ao descalabro que assolou este país na década seguinte, que ainda todos nós estamos a pagar e assim continuaremos.

Quase 13 anos passados, escondido por detrás de um autor que assume a sua “biografia autorizada”, Jorge Sampaio decide tentar conspurcar ainda mais a imagem de Pedro Santana Lopes, justificando o seu ato com o facto do país estar então, imagine-se, “à deriva”.

Se o estava, entrou a seguir numa entusiástica rota para o naufrágio e, como tal, Jorge Sampaio pode tentar mas não se livra da sua cota parte de paternidade na ascensão ao poder daqueles que conduziram o país à bancarrota.

Mas, neste ajuste de contas, ainda mais pateticamente ensurdecedor é o silêncio conivente de muitos dos atuais senhores do PSD. Aliás, se restarem, serão mínguas as dúvidas de que a demissão de Pedro Santana Lopes do cargo de primeiro-ministro, em 2004, fez então estourar muitas rolhas de garrafas de espumante por parte daqueles que tantas vezes andavam e andam com o nome de Sá Carneiro na boca e enterram cada vez mais a herança. E são muitos os que, agora, temem que Pedro esteja de volta.

Hirtos na deriva liberal que conduziu o partido a um beco, revelam a covardia própria dos que temem o regresso de alguém que, ao longo da sua vida política, não fez concessões à sua bitola social-democrata nem a vendeu por pouco mais do que 30 dinheiros.

Na fábula, era Pedro (o pequeno) que mentia sobre o lobo que vinha aí.

Na vida real, são os carnívoros que cravaram os dentes na garganta de Portugal que começam a ter medo que Pedro Santana Lopes decida voltar à arena política.

Vem tarde mas vem a tempo.

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