Opinião: Os pequenos ditadores

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Joaquim Amândio Santos

Não subscrevo muitas das posições de Jaime Nogueira Pinto. Está muito à direita da minha linha de pensamento.

Mas esse facto em nada belisca a minha profunda admiração pelo seu brilhantismo intelectual, que o transforma num osso duro de roer em qualquer circunstância onde se exerça um contraditório de argumentos, próprio da discussão de ideias numa democracia que se orgulhe de o ser.

Mais. A melhor forma de combater doutrinas totalitaristas, sejam fascistas, comunistas, populistas ou outras que tais, não passa por impedir a sua discussão, tornando vítimas quem as defende, ou ignorar a sua ambição de domínio e o trabalho de sapa na doutrinação de um mundo cada vez mais frágil.

Mas ao que parece a nossa democracia não está assim tão adulta e continuamos a ter um naipe grande de intervenientes que convivem mal com a diferença e a discussão.

A direção da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas (FCSH) da Universidade Nova de Lisboa cancelou, a pouco mais de 24 horas da hora marcada ( 18h30 de terça-feira, 7 de março), uma conferência sob o “Populismo ou Democracia? O Brexit, Trump e Le Pen em debate” onde Jaime Nogueira Pinto seria o único orador.

O evento tinha sido organizado por núcleo de estudantes ligado à Nova Portugalidade, uma associação de direita.

Se já a indelicadeza de fechar portas a um ato no mínimo cultural e pedagógico, um dia antes de acontecer, se torna difícil de entender nos doutos diretores de tão nobre casa académica, então as razões apresentadas ultrapassam o limiar do ridículo.
A direção da FCSH cancelou a conferência por causa de uma moção aprovada em Assembleia-Geral de Alunos e receio de violência(!).

Já foi mau que uma direção de uma faculdade se acovarde e ceda a uma exigência seja de quem for, censurando a discussão de um tema. Que eu saiba, as escolas ainda são locais de ensino, cultura e partilha.

Mas incluir na justificação para tal o medo de que a conferência fosse palco de um arraial de pancadaria revela algo mau de mais para ser verdade. Revela medo de exercer o poder de direção e dá uma mensagem ao agressor de que a ameaça ali compensa. Uma vergonha.

Mas há mais. Nas notícias não passa de um parágrafo, mas existe um número que diz bem de que uma minoria organizada, com tiques totalitaristas, consegue tornar refém uma maioria.

Nessa dita RGA (Reunião Geral de Alunos) participaram e votaram 31 alunos, dos quais 24 votaram a favor. 31. Ou a FCSH está deserta e sem alunos nos seus diferentes ciclos de ensino, ou então assumimos que a arrogância de meia dúzia decidiu (sem que ninguém se opusesse) impor o seu arrogante cutelo ao livre arbítrio e à discussão.

Entre os já famosos 31 estão sobretudo elementos ligados a uma estrutura de estudantes identificada com o Bloco de Esquerda.

Foi dito publicamente e não desmentido que assim é.

Podem ficar descansados os líderes bloquistas.

A ver pela atuação deste grupo minúsculo que se reuniu e decidiu sequestrar a democracia, os “workshops” dados na escola de verão do partido, com temas tão aliciantes como a agitação, a desobediência civil e outras formas bem maoístas de silenciar adversários e opiniões fora da ortodoxia da sua agenda de tomada do poder, estão realmente a produzir resultados.

Se não fosse uma sugestão capitalista, até propunha que aumentassem os formadores pois treinaram bem as criaturas.

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