Opinião: Dia(s) da Juventude

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Francisco Queirós

A 28 de Março comemorou-se o Dia da Juventude. Milhares de jovens saíram às ruas em Lisboa, manifestando-se pelos seus direitos e contra a precariedade das relações laborais.

A juventude é uma camada social que, não sendo homogénea, se identifica geralmente com os valores de solidariedade, partilha e participação, sendo pois uma força indispensável na luta pelo progresso social.

O Dia da Juventude em Portugal remonta a 28 de Março de 1947. Então, há 70 anos, decorreu em Bela Mandil, no Algarve, um acampamento com centenas de jovens, organizado pelo Movimento de Unidade Democrática Juvenil (MUD Juvenil). A grande guerra terminara pouco antes, os jovens portugueses, em pleno fascismo, reivindicaram a paz, a liberdade e a democracia.

O regime de Salazar não o pôde consentir. As forças repressivas do regime, armadas, intervieram com violência no acampamento e efectuaram um vasto número de prisões. Este dia tornou-se um marco histórico da luta da juventude portuguesa e passou a ser assinalado até aos dias de hoje.

Não se trata apenas de evocar a coragem de uns quantos jovens antifascistas que pela sua luta e resistência contribuíram para a queda do regime. A comemoração do dia da juventude evoca todo o património de dinamismo, criatividade e inconformismo, no passado e no presente.

Não é fácil ser-se jovem em Portugal. O país oferece-lhes desemprego, precariedade extrema nas relações laborais, dificuldades no acesso à habitação, à educação, ao desporto, à cultura, o fantasma da emigração. O pensamento dominante advoga a inevitabilidade destes problemas, fomentando a passividade, o imobilismo, a indiferença, a selectividade e o individualismo.

Mas os jovens não se submetem. Os estudantes nas escolas dinamizam acções por melhores condições materiais nos equipamentos e edifícios escolares, pelo direito a passe escolar e transportes, por uma efectiva acção social escolar, contra a elitização do ensino, contra as propinas, contra benefícios públicos ao ensino privado, por uma escola pública gratuita e de qualidade.

Nas empresas, o jovem é o primeiro dos descartáveis. A precariedade, uma velha peste social, alargou-se em mancha, com as políticas e os governos de direita. O jovem está mais sujeito à “modernidade” da centenária “praça de jorna”. Mas a luta de muitos jovens trabalhadores tem permitido vitórias significativas. Em diversas empresas, pela luta, trabalhadores precários passaram a efectivos. Assim, ocorreu recentemente na Sonae, no El Corte Inglés, na Bosch, entre outras.

A Constituição da República consagra diversos direitos dos trabalhadores sem distinção de idade, sexo, raça, cidadania, território de origem, religião, convicções políticas ou ideológicas. No artigo relativo à juventude define caber ao Estado a protecção especial no sentido da concretização dos seus direitos económicos, sociais e culturais, nomeadamente no acesso ao primeiro emprego, no trabalho, na segurança social e também na habitação.

“O trabalho e a luta não são apenas uma realidade e uma necessidade, um dever social e um dever cívico, mas são também correntes de atracção, e das mais poderosas correntes de atracção da juventude. O trabalho é fonte de bem-estar e de felicidade do homem e a luta é atitude ante a vida e caminho do futuro.”, sublinhava Álvaro Cunhal no encerramento do I Congresso da JCP a 25 de Maio de 1980. Pois é assim que se transforma o sonho em vida.

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