“O teatro é a minha casa”. A afirmação de Fernando Taborda, levada a título da entrevista que o DIÁRIO AS BEIRAS publicou a 27 de março de 2008 – querendo homenagear na pessoa do ator todos os que fazem e amam a grande arte do palco naquele Dia Mundial do Teatro –, serve como poucas o momento em que Fernando Taborda “sai de cena”, deixando esta, que é a sua casa, tão mais pobre.
Fernando Taborda [1934-2017], nascido em Aldeia Nova do Cabo, no Fundão – onde despertou para o teatro e outras “causas” com Armando Paulouro –, foi até aos seus últimos dias um dos mais emblemáticos e inspiradores atores da Bonifrates – Cooperativa de Produções Teatrais, em Coimbra, não sem que antes tivesse descoberto nomes como Luís Francisco Rebelo e o teatro de Lorca [na Escola do Magistério de Coimbra], mas também Gil Vicente depois de uma passagem forçada pela guerra colonial, em África, e o regresso a Coimbra, com passagem no Ateneu.
Ator da dimensão de outros nomes maiores dos palcos portugueses – ontem mesmo Ruy de Carvalho celebrou 90 anos de vida e 75 de carreira –, de que apenas o separava a distância que vai do “amador” ao “profissional”, Fernando Taborda participou ainda em várias produções cinematográficas, destacando-se o seu trabalho com o realizador (também de Coimbra) António Ferreira.
Mas da sua relação intensa e extraordinariamente rica com a Bonifrates ficamos a saber, numa declaração na primeira pessoa: “Na Bonifrates entrei em 1986, levado pelo José Barata, para substituir um ator na “Esopaida”. E foi até hoje. O teatro é a minha casa, a Bonifrates é a minha casa, é a minha (segunda) família (…)”.
Da cooperativa teatral que era a sua casa, a reação não podia ser outra: “A Cooperativa Bonifrates perdeu um dos seus grandes. É com imensa tristeza que o vimos partir. Palmas ao Taborda, de pé! Não era para ser assim! Não era ainda esta a tua deixa… Tínhamos ainda tantas contracenas neste palco/vida… Quem te mandou sair de cena?”.
E fica ainda, em jeito de homenagem também a um tempo e a uma forma de falar do teatro que se fazia e faz pelo país, juntando duas das suas mais ilustres personagens, o excerto de uma “certa” crítica assinada no Público por Manuel João Gomes, o jornalista que fez escola mas não deixou seguidores: “O encenador (José Oliveira Barata) contava com um ator fadado para o papel de Sancho Pança e tirou dele o melhor partido. Fernando Taborda é o Sancho com que qualquer realizador ou encenador sonharia…”.
Fernando Manuel Taborda de Azevedo Nogueira, com 82 anos, casado com Maria Huguete Reis Moura Eloy, natural de Aldeia Nova do Cabo, Fundão, e residente em Coimbra, faleceu esta quarta-feira. O seu funeral realizou-se hoje em Coimbra. À família e aos amigos, o DIÁRIO AS BEIRAS apresenta as mais sentidas condolências.
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