Opinião – Ny- Alesund

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Pedro Mota Curto

 

A embarcação era confortável apesar das reduzidas dimensões. Dois tripulantes noruegueses e sete passageiros, americanos, suíços e portugueses. O vento, oriundo do norte, provocava alguma ondulação que ia fustigando a proa. Como a viagem iria durar quatro horas não era possível diminuir a velocidade. Havia que regressar ainda nesse dia, o que implicava oito horas de viagem. Em agosto não anoitecia, era sempre de dia, o que nos dava, apesar de tudo, algumas garantias de visibilidade, apesar da longa e agitada viagem. Onda após onda o barco lá ia progredindo em direção ao norte, para cima e para baixo, para cima e para baixo. Adivinhavam-se quatro longas horas, apesar do sol brilhante que ia alternando com nuvens baixas ou nevoeiro ou até um espesso e ameaçador céu cinzento que por vezes se encostava ao mar gélido.
Em 2016, a paisagem não deveria ser muito diferente de há muitos milhões de anos atrás. Fiordes e mais fiordes, altas montanhas espetadas, sem qualquer vegetação, mas com muita neve e gelo. Inúmeros glaciares ameaçando de forma estática a ondulação que tentava impedir a nossa progressão. Neves eternas que não cobriam totalmente as montanhas mas que se tornavam bastantes assustadoras quando pensávamos que nos três meses de inverno polar, estariam totalmente cobertas de neve, envoltas numa escuridão total e permanente, em companhia de pavorosas tempestades acicatadas por ventos ciclónicos e temperaturas de cinquenta graus negativos. Definitivamente, o ser humano por estas bandas é de uma irrelevância total.
Após as quatro horas de atribulada navegação (desde Longyearbyen, capital do arquipélago norueguês de Svalbard), desembarcámos em Ny-Alesund. Um porto minúsculo, rodeado por glaciares, neve e ursos polares, vinte ou trinta casas de madeira, a maioria com quase cem anos de idade, uma adaptada a mini-hotel, outra como mini-loja, outra como mini-museu local e uma minúscula estação dos correios.
Ny-Alesund situa-se a 1231 quilómetros do Pólo Norte. Entre 1916 e 1929 aqui funcionaram as minas de carvão mais setentrionais do mundo. Neste local chegaram a viver quase 300 pessoas, incluindo cerca de 20 mulheres e crianças. Em 1920, foi tentada a instalação de uma quinta com 4 vacas, 5 cavalos e 92 porcos. Em 1925, durante algumas semanas, aqui viveu o explorador do Ártico, o norueguês Roald Amundsen. Daqui partiram diversas tentativas para alcançar o Pólo Norte, de avião ou de Dirigível (Zepelin). O explorador italiano Umberto Nobile esteve em Ny-Alesund em 1928. Muitas tentativas falhadas e vários exploradores do Ártico morreram sem conseguir atingir o Pólo Norte. Este clima é realmente adverso à vida humana.
Na década de 30, foi inaugurado o pequeno “North Pole Hotel”, numa tentativa de atrair eventuais turistas.
Em 1963, após um grave acidente nas minas, estas foram definitivamente encerradas.
Em 2016, a população de Ny-Alesund era constituída por 35 cientistas de vários países. A investigação científica é o novo desiderato deste inóspito local, sendo absolutamente proibido sair do reduzido perímetro da localidade devido ao perigo eminente de ataque, por parte dos ursos polares.

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